Política Pirata. Pirate Politics.

Política Pirata. Pirate Politics. Por que este blog tem esse nome estranho, 'Política Pirata'... or 'Pirate Politics'? Para estarmos atentos da enormidade do que há de pirataria na política. Afinal, é a Política que faz a mediação entre dois campos de atuação do diabo: o Dinheiro (Economia) e a Guerra...

Desterrada a justiça, que é todo o reino senão pirataria? (Santo Agostinho)

O amor antes do poder Love before power
Então o Amor com o poder Then Love with power
Para destruir o Poder sem amor.
To destroy (the) Power without love.

"The Ocean is my church and my playground."

A política e o mundo só vão mudar quando nós mudarmos por dentro, e agirmos de acordo. E isso pode ir começando hoje; pense bem... Vamos nos perguntar se o que o nosso coração sente, o que a nossa cabeça pensa, o que nossa boca fala, e o que nossas mãos fazem... é AMOR... Nossos pensamentos, palavras e ações passam pelas peneiras da VERDADE, da BONDADE e da NECESSIDADE?

"The boisterous sea of liberty is never without a wave." (Thomas Jefferson, Oct.20th, 1820)

"Ninguém pode servir a dois senhores: não podeis servir a Deus e ao dinheiro"... (Lucas 16.13; Mateus 6.24)

"Mudar o mundo, amigo Sancho, não é loucura, nem utopia... É justiça!" (Dom Quixote de la Mancha, Miguel de Cervantes)

"Uma nação que valoriza seus privilégios acima de seus princípios, está a caminho de perder ambos." (Dwight Eisenhower)

"Para encontrar a solução de um problema, é preciso - primeiro - mudar a consciência que produziu o problema." (Albert Einstein)

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Leonardo Boff: A beleza salvará o mundo: Dostoiévski nos diz como


Beleza, do sânscrito Bet-El-Za: "o lugar onde Deus brilha"

Leonardo Boff

A beleza  salvará o mundo: Dostoiéwski nos diz como

Leonardo Boff*, em 27/04/2014


Dos gregos aprendemos, e isso atravessou todos os séculos, que todo ser, por diferente que seja, possui três características transcendentais (estão sempre presentes pouco importa a situação, o lugar e o tempo): ele é unum, verum et bonum, quer dizer ele goza de uma unidade interna que o mantém na existência, ele é verdadeiro, porque se mostra assim como de fato é, e é bom porque desempenha bem o seu lugar junto aos demais ajudando-os a existirem e coexistirem. 
Foram os mestres franciscanos medievais, como Alexandre de Hales e especialmente São Boaventura que, prolongando uma tradição vinda de Dionísio Aeropagita e de Santo Agostinho, acrescentaram ao ser mais uma característica transcendental: o pulchrum vale dizer, o belo.  Baseados, seguramente  na experiência pessoal de São Francisco, que era um poeta e um esteta de excepcional qualidade, que “no belo das criaturas via o Belíssimo”, enriqueceram nossa compreensão do ser com a dimensão da beleza. Todos os seres, mesmo aqueles que nos parecem hediondos, se os olharmos com afeição, nos detalhes e no todo, apresentam, cada um a seu modo, uma beleza singular senão na forma mas na maneira como neles tudo vem articulado com um equilíbrio  e harmonia surpreendentes. 
Um dos grandes apreciadores da beleza foi Fiodor Dostoiéwski. A beleza era tão central em sua vida, conta-nos Anselm Grün, monge beneditino e grande espiritualista, em seu último livro Beleza: Uma nova espiritualidade da alegria de viver (Vier Türme Verlag  2014) que o grande romancista russo  deslocava-se pelo menos uma vez ao ano até à Capela Sistina do Vaticano só para contemplar a formosa Madona de Rafael. Permanecia longo tempo em contemplação diante daquela esplêndida figura. Tal fato é surpreendente, pois seus romances penetraram nas zonas mais obscuras e até perversas da alma humana. Mas o que o movia, na verdade, era a busca da beleza  pois nos legou  a famosa frase:”A beleza salvará o mundo” dita no livro O idiota. 





No romance Os irmãos  Karamazov aprofunda a questão. Um ateu Ipolit pergunta ao príncipe Mynski como “a beleza salvaria o mundo”. O príncipe nada diz mas vai junto a um jovem de 18 anos que agonizava. Ai fica cheio de compaixão e amor até ele morrer. Com isso quis dizer: beleza é o que nos  leva ao amor condividido com a dor; o mundo será salvo hoje e sempre enquanto houver esse gesto. E como nos faz falta hoje! 
Para Dostoiéwski a contemplação da Madona de Rafael era a sua terapia pessoal, pois sem ela  desesperaria dos homens e de si mesmo, diante de tantos problemas que via. Em seus escritos descreveu pessoas más e destrutivas e outras que mergulhavam nos abismos do desespero. Mas seu olhar, que rimava amor com dor compartida, conseguia ver beleza na alma dos  mais perversos personagens. Para ele, o contrário do belo não era o feio mas o utilitarismo, o espírito de usar os outros e assim roubar-lhes a dignidade. 
“Seguramente não podemos viver sem pão, mas também é impossível existir sem beleza”, repetia. Beleza é mais que estética; possui uma dimensão ética e religiosa. Ele via em Jesus um semeador de beleza. “Ele foi um exemplo de beleza e a implantou na alma das pessoas para que através da beleza todos se fizessem irmãos entre si”. Ele não se refere ao amor ao próximo; ao contrário: é a beleza que suscita o amor e nos faz ver no outro um próximo a amar. 
A nossa cultura dominada pelo marketing vê a beleza como uma construção do corpo e não da totalidade da pessoa.  Então surgem métodos e mais métodos de plásticas e botoxes para tornarem as pessoas mais “belas”. Por ser uma beleza construída, ela é sem alma. E se repararmos bem, nestas belezas fabricadas,emergem pessoas  com uma beleza fria e com uma aura de artificialidade, incapaz de irradiar. Dai irrompe  a vaidade, não amor, pois beleza tem a ver com amor e comunicação. Dostoiéwski observa, nos Irmãos Karamazov,que um rosto é belo quando você percebe que nele litigam Deus e o Diabo ao redor do bem e do mal. Quando percebe que o bem venceu, irrompe a beleza expressiva, suave, natural e irradiante. Qual é a maior beleza? A do rosto frio de uma top-model ou o rosto enrugado e cheio de irradiação da Irmã Dulce de Salvador, Bahia, ou da Madre Teresa de Calcutá? A beleza é irradiação do ser. Nas duas Irmãs, a irradiação é manifesta na top-model é esmaecida. 
O papa Francisco conferiu especial importância na transmissão da fé cristã à via pulchritudinis (a via da beleza). Não basta que a mensagem seja boa e justa. Ela tem que ser bela, pois só assim chega ao coração das pessoas e suscita o amor que atrai ( ExortaçãoA alegria do Evangelho, n 167). A Igreja não visa o proselitismo mas a atração que vem da beleza e do amor, cuja característica é o esplendor. 
A beleza é um valor em si mesmo. Não é utilitarista. É como a flor que floresce por florescer, pouco importa se a olham ou não, como diz o místico Angelus Silesius. Mas quem não se deixa fascinar por uma flor que sorri gratuitamente ao universo? Assim devemos viver a beleza no meio de um mundo de interesses, trocas e mercadorias. Então ela realiza sua origem sânscrita Bet-El-Za que quer dizer: “o lugar onde Deus brilha”. Brilha por tudo e nos faz também brilhar pelo belo.
*Leonardo Boffteólogo e filósofo, é também escritor. É dele 'A força da ternura' Editora Mar de Idéias, Rio 2011. -  leonardo Boff/Jornal do Brasil