(Revisão)
Bom, ia escrever ainda mais 3 ou 4 tópicos, antes de entrar propriamente na eleição de Gustavo Fruet. Mas está faltando tempo e "fosfato"... Então, vou "pular"... "Eu passo essa"... Vamos "direto ao ponto", enquanto está "mais ou menos quente", e a memória e o tempo ajudam... Vamos ao que interessa: DIRETO PRA 2012!
São esses, dos itens 5.1 até 9, os itens que pretendia abordar (e ainda pretendo, na devida oportunidade...). O item 10 entra já na eleição...:
5.1. AINDA 1968
Guerrilha vietnamita invade embaixada dos EUA em Saigon, 31/01/1968.
Primeira Batalha de Saigon, 07/03/1968.
Martin Luther King 04/04/1968, assassinato em Memphis, Tenessee.
Robert Kennedy, 06/06/1968, também assassinado, em Los Angeles, California.
Capitão Sérgio Miranda denuncia uso de quartel da FAB para eliminar oposicionistas, 01/10/1968.
Prisão de mais de mil estudantes em Ibiúna, SP, 12/10/1968.
AI-5, 13/12/1968.
Prisão e cassação de Carlos Lacerda, 23/12/1968.
José Dirceu (sabe-se lá porque com cara "de esperto"...)
sendo preso em Ibiúna em 12.10.1968
[CLIQUE PARA AMPLIAR]
6. A VIAGEM À EUROPA EM 1970 DA TURMA DE 71 (CARAVANA DE INTERCÂMBIO CULTURAL DE ENGENHARIA) E FORMATURAS EM 1970 (ECONOMIA) E 1971 (ENGENHARIA).
7. A FORMAÇÃO E A "DEFORMAÇÃO" PROFISSIONAL: NÓS, PROFISSIONAIS DE ENGENHARIA E DE ECONOMIA, NO BRASIL DE 1971-2011. E como o "Sistema" é - vergonhosamente - uma "máquina de moer gente"...
8. "MOCHILEIRO" no percurso RIO - NORDESTE E NORTE DO BRASIL - COLÔMBIA - AMÉRICA CENTRAL - USA (California - New York) - CANADÁ - IRLANDA - INGLATERRA - EUROPA - GRÉCIA - BULGÁRIA - TURQUIA - PORTUGAL - BAHIA - RIO - CURITIBA.
8.1. Outras viagens: AMÉRICA LATINA - EUROPA - ÁFRICA - USA.
9. MINHA FILIAÇÃO POLÍTICA E O PORQUE DO PT, EM 2011, através do amigo e deputado Dr. Rosinha.
Então, vamos lá... DIRETO PRA ELEIÇÃO!
10. GUSTAVO FRUET PREFEITO: 2012 - CURITIBA
Início de 2012: estou prestando serviços de construção civil em Londrina, Ponta Grossa e Curitiba, cujos trabalhos se sucedem e vão até junho.
No sábado, 18 de fevereiro, noticiei em meu blog "Política Pirata", a defesa da ministra Gleisi, com os argumentos em favor do apoio do PT de Curitiba à coligação com o PDT, para fazer de GUSTAVO FRUET o nosso Candidato e o nosso Prefeito. Veja o link:
Ministra Gleisi Hoffmann defende aliança com PDT e Gustavo Fruet.
Já desde o ano anterior (2011), os deputados Tadeu Veneri e Dr. Rosinha vinham pleiteando a candidatura própria, dentro do PT. E continuavam trabalhando para isso... São vozes de muito peso dentro do Partido dos Trabalhadores. E eu tinha procurado, quando resolvi entrar no partido, para iniciar-me na política partidária, exatamente o Dr. Rosinha... Um amigo... Que, quando me recebeu, de braços abertos, resumiu o Partido como um partido de "centro-esquerda"... Exatamente o que eu estava procurando... Um partido que tivesse uma espinha dorsal e uma cabeça no centro...; mas com um coração à esquerda, como deve ser...
Deputados Dr. Rosinha e Tadeu Veneri em "dobradinha"
na eleição de 2010
Por que, então, Gustavo Fruet? Porque conheço - e Curitiba e os curitibanos conhecem - sua trajetória, e seu caráter; e a trajetória de seu pai, Maurício, e de sua família. E Gustavo tinha e tem luz própria, construíra esse capital político, com sua história de vida, história dentro do PMDB e do PSDB, atuação no Congresso Nacional e nas eleições já disputadas. Embora o PT tivesse bons candidatos, estaríamos "adquirindo o passe" de um "craque"...
A isso, somava-se o fato de conhecer bem, muito bem, também a trajetória do PT de Curitiba, do Paraná e do Brasil. E a história de dignidade do Partido dos Trabalhadores em Curitiba. E as lutas da "esquerda". E a história do Brasil e do mundo. E porque a vida foi me ensinando... Sabia que não poderíamos nos isolar...
Eu sabia que para o PT crescer e governar, em Curitiba e no Paraná, precisaria formar uma nova maioria, que nunca teve... E sabia também, porque a vida me ensinou, que os miseráveis, sozinhos, não fazem a revolução, os miseráveis "morrem de fome"... Precisaríamos agregar mais... Muito mais...
E que não adiantaria nos juntarmos a alguém no 2.º turno, como fizemos muitas vezes apoiando o governador Requião (e vencemos, inclusive em Curitiba, ao contrário do que os "inimigos" apregoavam, quando diziam que "Curitiba não vota no PT"), se esse alguém (o candidato que apoiaríamos no 2.º turno) soubesse que "teríamos mesmo que vir"... Será que seríamos tratados, mais uma vez, como a "mulher do malandro" do governador Requião (com o perdão do imaginário popular...), quando dávamos os nossos votos, e recebíamos muito pouco em troca??
Isso, se vencêssemos no segundo turno, apoiando alguém... Porque o mais provável é que iríamos, mais uma vez, perder as eleições aqui em Curitiba, e o grupo que estava há 24 anos no poder, iria - mais uma vez - vencer... Afinal, nem Lula nem Dilma jamais ganharam eleições em Curitiba... Neste caso, o governador Beto Richa sairia muito fortalecido, e perderíamos também a eleição para o Governo do Estado em 2014... E enfraqueceríamos muito o projeto da presidente Dilma, ao deixar fortalecer o PSDB, e talvez fortalecer demais o PSB... Seria, no mínimo, o PT de Curitiba e do Paraná talvez mais uma década fora do poder... Valeria a pena correr este risco? Eu apostava que não...
Em 15 de abril, acompanhei pela internet, com expectativa, a eleição interna do PT para definir a coligação com o PDT ou a candidatura própria. Com 7 urnas apuradas, faltando só as regionais do Portão e do Pinheirinho, vencia a tese da candidatura própria por 680 votos contra 624... Estávamos perdendo mas, no final, virou... Foram 1093 votos (57%) pela coligação com o PDT de Fruet contra 817 pela candidatura própria. Ufa!! No sufoco!!
Política Pirata Pirate Politics Love before power O amor antes do poder Then Love with power Então o Amor com o poder To destroy (the) Power without love Para destruir o Poder sem amor.
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
ÓDIO REVISITADO
Clique na foto para ampliar
Medo. Preconceito. Intolerância. Guerra.
Medo. Preconceito. Intolerância. Guerra.
Clique em Ódio revisitado Piauí62 e veja uma muito reveladora história de INTOLERÂNCIA RACIAL NA
AMÉRICA.
A INTOLERÂNCIA E O PRECONCEITO estão presentes em todas as partes do
mundo: no Oriente, na Europa, na América do Norte, na África, no Brasil, no
Oriente Médio, na América Latina, na Oceania, em nossos quintais e vizinhanças.
Em mim e em você. Tem duas mãos: vem de mim, e vem de você... Quem dá mais? Quem está mais "carregado"?
NÃO EXISTE GUERRA JUSTA (rememorando um clássico, Guerra e
Paz, 1869, de Leon Tolstoi), que está disponível (em inglês) - para quem se interessar, e
encontrar tempo - em Domínio Público http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/gu002600.pdf.
Não existem
raças, não existem partidos, não existem ricos e pobres (no espírito), não existem ideologias ou religiões muito melhores que as outras, não existem "ídolos" ou "deuses"...
Nós criamos essa "parafernália" e essas "estúpidas ilusões"... Ilimitado, mesmo, em nós, mortais, só a "impiedade sem limites"... Então, deveríamos ser mais compassivos conosco
mesmos, com nossos semelhantes, com os pequeninos e despossuídos, e deveríamos nos humilhar e repensar
nossas "organizações" e "desorganizações"... e seus
objetivos... Afinal, jogamos um joguinho muitas vezes "para lá de idiota"... e mesquinho... E não vamos sair
mesmo vivos desse "joguinho", no final de nossa "vida
terrestre"...
Então, devemos "focar" um pouco mais no "Jogo
Maior", onde existe a “Ressurreição”... E sermos generosos. Mais generosos. Muito mais generosos. Conosco mesmos e com nossos semelhantes.
Existem apenas duas nações: a dos
vivos... e a dos mortos (Mia Couto, em "Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra"); e a voz deles (os que estão "do lado de
lá"...), muito mais experientes, deveria ser mais respeitada, e mais
ouvida...; deveríamos deixar falar, mais e mais, entre nós, o silêncio; e, no
silêncio, ouvir nossos pais, avós, bisavós e tataravós... E deixar essas vozes ecoarem, de lá, do "universo sem fronteiras", lá onde somos todos humildes e soberanos... ouvir o cristalino som e a vívida imagem "da luz que habita nas trevas"...
Mas parecemos
insistir em não querer ouvi-los (e vê-los)... Insistimos em não estudar, e até desconhecer
a história, as raízes e o gênese... Por isso, acabamos nem ao menos sabendo, ou nem querendo saber, aonde estamos indo...
Enquanto isso, os mais sábios, e as
notícias do dia-a-dia, insistem em nos alertar: assim, (pelo nosso comportamento geral) não estamos nos conduzindo
bem... E, "por trás do nosso palco", ele... ele mesmo... o diabo... permanece, "brincando" conosco... exercendo seu comando... Porque - AGINDO COMO
COVARDES - insistimos em tratá-lo como se não existisse... Ou como se estivesse apenas "nos outros"... Assim, nunca enfrentaremos nosso "inimigo comum", e permaneceremos "fingindo que vivemos"...
Porque parecemos inconscientes de que "os outros", na verdade, são a parte mais importante de nós mesmos... E quando - em nosso egoismo - agredimos ou prejudicamos
"os outros", apenas apressamos a nossa morte, e - irresponsavelmente
- adiamos a implantação do Reino de Deus...
E assim permaneceremos - até nos destruirmos, e perdermos, talvez bilhões de anos de "trabalho" do Criador - em impiedade e guerra...
Vamos deixar??
SÓ TEM UM JEITINHO... "FACINHO"... E BEM BRASILEIRO (OU NÃO?)...: NOS DARMOS AS MÃOS...
sábado, 17 de novembro de 2012
4 - Minha Primeira Campanha Política: 2012 - GUSTAVO FRUET - Parte 4
Centro Politécnico 1968: estudante com
estilingue atacando cavalariano
5. "1968: O ANO QUE NÃO TERMINOU" (copyright Zuenir Ventura) e a "GERAÇÃO PAZ E AMOR" (primeira revisão)
Eram meus 19 anos, no segundo ano da Faculdade de Engenharia da UFPR. À noite, fazia Economia, na FESP...
No dia 12 de maio, um domingo, haveria um concurso vestibular, que estava programado para instituir o ensino pago na Universidade Federal do Paraná. O local da prova seria no Centro Politécnico.
Nós, estudantes, combinamos que impediríamos a implantação do ensino pago na Universidade. Para tanto, a maior parte saiu de um baile que "varou a noite" de sábado e a madrugada de domingo, e fomos para lá, de manhã cedo. Eu, que na verdade era muito "nerd" (na nomenclatura brasileira da época, com significados um pouco diferentes de "nerd": "caxias" ou "cu-de-ferro"...), não fui ao baile, para chegar descansado e não perder a hora...
Postamo-nos no portão, para impedir o acesso de candidatos e professores. Os policiais, inclusive cavalarianos, também vieram. Não sei de onde nem como, começou o confronto. Alguns estudantes tinham levado bolas-de-gude, para jogar no asfalto e derrubar os cavalos e, alguns, estavam armados de coquetéis Molotov. Eu, nem de longe, esperava qualquer coisa séria; para mim, era uma brincadeira como outra qualquer... Para dizer a verdade, não tinha a menor noção do que estávamos fazendo... "Para disfarçar", eu estava apenas "armado" de um livro debaixo do braço... Na realidade, de alguma forma, sem saber, estávamos sendo "conduzidos"...
Acabei sendo preso, sem reagir, depois de tentar "escapar"... Foram presos, nessa ocasião, uns 30 ou 40 estudantes...
De cômico, lembro-me que entrou no ônibus onde fomos acomodados (fiquei num dos bancos de trás) um Oficial que, em seu discurso, referiu-se a nós como "a camarilha de Mao Tsé Tung"... Achei muito engraçado e não consegui conter o riso... Ainda bem que eu tinha ficado lá atrás...
Era Dia das Mães, e ficamos presos até o final da tarde, no quartel da PM na esquina das avenidas Getúlio Vargas com Marechal Floriano. Depois, soube que as mães tinham feito um movimento solidário, condizente com a comoção de mães com os filhos presos (em pleno Dia das Mães...), que mobilizou a imprensa, a cidade e autoridades, inclusive o governador, para nossa soltura.
Fomos bem tratados, só não lembro de ter sido servida qualquer refeição... Também, pudera... Alguns estudantes e alguns policiais tinham ficado feridos... Mas nada grave, felizmente...
No dia seguinte, segunda-feira, e durante algum tempo, a Tribuna do Paraná publicou sempre a mesma foto minha, sendo preso, acompanhado de um policial...; a foto, com tamanho reduzido, e em preto-e-branco, era a imagem que indicava o assunto "movimento estudantil", uma presença constante na imprensa durante o ano de 1968...
Mas esse Dia das Mães, para mim, foi um "divisor de águas". Decidi não "me meter" mais com política estudantil. Dois dias depois, o movimento prosseguiu, com ato na Reitoria, quando foi derrubado o busto do Reitor Flávio Suplicy de Lacerda, então Ministro da Educação. Também houve prisões, mas eu não estive presente. E não mais participei do movimento. Havia a ameaça de ser expulso da universidade, e preferi não correr esse risco...
Aí, um outro movimento, no final dos anos 60 e início dos 70, o da "geração paz e amor", chegou até mim. Eram tempos, também, da Guerra no Vietnam. E de protestos contra a guerra, que terminaram com a retirada das tropas americanas e vitória dos rebeldes vietcongs. Tempos também de mudanças aceleradas e de liberação. Tempos de "sexo, drogas e rock and roll"... No meu caso, muito pouco sexo, muito poucas drogas e algum "som"... Se eu pudesse "passar a limpo" essa fase da minha vida, certamente "deletaria" o segundo item (as drogas); embora, no meu caso (relativamente raro, na minha geração), não tenham as drogas (por sorte ou baixo consumo) deixado sequelas, e tenham - paradoxalmente - me ajudado no caminho de reconhecimento do mundo espiritual. E, pela graça de Deus, saí logo dessa... Mas buscávamos alternativas, a uma sociedade que percebíamos doente...
Ouvíamos Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Rolling Stones, os cantores e bandas do Festival de Woodstock, o musical Hair, Bob Dylan, Janis Joplin e muitos outros. Continuava o meu gosto pela leitura. E, pouco a pouco, a iniciação no hinduísmo, budismo e cristianismo... Foi um início de aprendizado. Eu começava a perder a inocência. E começava a deixar de ser ateu...
A partir daí, e definitivamente, tive a plena consciência de que seria pelo caminho da paz a minha ação futura. Mas sabia também que o mundo estava muito longe disso... O sonho de 1968 ainda estava muito longe. E eu teria que saber esperar...
Enquanto isso... Muito aprendizado... Muita luta... Muita determinação, no geral... Mas muitos erros, indecisões e tentativas de acerto... Estudo e de trabalho. Lazer e "escapadas"...
Para conseguir as mudanças necessárias, fui percebendo que precisaria ter muita saúde, e muita paciência, e estudo, e trabalho, e preparo...; e precisaria também me aproximar mais de Deus. Mais e mais... Muito mais. Se fosse mesmo para ser alguma coisa comigo, que eu fosse fazer parte da grande transformação que precisávamos, só Ele poderia me conduzir... Mas eu teria que fazer por merecer... E saber esperar, que a minha hora haveria de chegar... Na verdade, em 1968, o que sabíamos nós, que queríamos mudar o mundo? Quase nada...Sabíamos apenas sonhar... Alguns, quiseram logo alcançar o impossível, e pereceram. Outros, se enredaram no caminho de outras ilusões e de outras espertezas, e pereceram ou estão a caminho de perecer... E os vi caindo... À direita e à esquerda... Então, eu olho à minha esquerda, e tem alguém me dizendo: EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA...
DÁ-ME A TUA MÃO...
Somos parte de algo maior, muito maior...
estilingue atacando cavalariano
5. "1968: O ANO QUE NÃO TERMINOU" (copyright Zuenir Ventura) e a "GERAÇÃO PAZ E AMOR" (primeira revisão)
Eram meus 19 anos, no segundo ano da Faculdade de Engenharia da UFPR. À noite, fazia Economia, na FESP...
No dia 12 de maio, um domingo, haveria um concurso vestibular, que estava programado para instituir o ensino pago na Universidade Federal do Paraná. O local da prova seria no Centro Politécnico.
Nós, estudantes, combinamos que impediríamos a implantação do ensino pago na Universidade. Para tanto, a maior parte saiu de um baile que "varou a noite" de sábado e a madrugada de domingo, e fomos para lá, de manhã cedo. Eu, que na verdade era muito "nerd" (na nomenclatura brasileira da época, com significados um pouco diferentes de "nerd": "caxias" ou "cu-de-ferro"...), não fui ao baile, para chegar descansado e não perder a hora...
Postamo-nos no portão, para impedir o acesso de candidatos e professores. Os policiais, inclusive cavalarianos, também vieram. Não sei de onde nem como, começou o confronto. Alguns estudantes tinham levado bolas-de-gude, para jogar no asfalto e derrubar os cavalos e, alguns, estavam armados de coquetéis Molotov. Eu, nem de longe, esperava qualquer coisa séria; para mim, era uma brincadeira como outra qualquer... Para dizer a verdade, não tinha a menor noção do que estávamos fazendo... "Para disfarçar", eu estava apenas "armado" de um livro debaixo do braço... Na realidade, de alguma forma, sem saber, estávamos sendo "conduzidos"...
Acabei sendo preso, sem reagir, depois de tentar "escapar"... Foram presos, nessa ocasião, uns 30 ou 40 estudantes...
De cômico, lembro-me que entrou no ônibus onde fomos acomodados (fiquei num dos bancos de trás) um Oficial que, em seu discurso, referiu-se a nós como "a camarilha de Mao Tsé Tung"... Achei muito engraçado e não consegui conter o riso... Ainda bem que eu tinha ficado lá atrás...
Era Dia das Mães, e ficamos presos até o final da tarde, no quartel da PM na esquina das avenidas Getúlio Vargas com Marechal Floriano. Depois, soube que as mães tinham feito um movimento solidário, condizente com a comoção de mães com os filhos presos (em pleno Dia das Mães...), que mobilizou a imprensa, a cidade e autoridades, inclusive o governador, para nossa soltura.
Fomos bem tratados, só não lembro de ter sido servida qualquer refeição... Também, pudera... Alguns estudantes e alguns policiais tinham ficado feridos... Mas nada grave, felizmente...
No dia seguinte, segunda-feira, e durante algum tempo, a Tribuna do Paraná publicou sempre a mesma foto minha, sendo preso, acompanhado de um policial...; a foto, com tamanho reduzido, e em preto-e-branco, era a imagem que indicava o assunto "movimento estudantil", uma presença constante na imprensa durante o ano de 1968...
Mas esse Dia das Mães, para mim, foi um "divisor de águas". Decidi não "me meter" mais com política estudantil. Dois dias depois, o movimento prosseguiu, com ato na Reitoria, quando foi derrubado o busto do Reitor Flávio Suplicy de Lacerda, então Ministro da Educação. Também houve prisões, mas eu não estive presente. E não mais participei do movimento. Havia a ameaça de ser expulso da universidade, e preferi não correr esse risco...
Aí, um outro movimento, no final dos anos 60 e início dos 70, o da "geração paz e amor", chegou até mim. Eram tempos, também, da Guerra no Vietnam. E de protestos contra a guerra, que terminaram com a retirada das tropas americanas e vitória dos rebeldes vietcongs. Tempos também de mudanças aceleradas e de liberação. Tempos de "sexo, drogas e rock and roll"... No meu caso, muito pouco sexo, muito poucas drogas e algum "som"... Se eu pudesse "passar a limpo" essa fase da minha vida, certamente "deletaria" o segundo item (as drogas); embora, no meu caso (relativamente raro, na minha geração), não tenham as drogas (por sorte ou baixo consumo) deixado sequelas, e tenham - paradoxalmente - me ajudado no caminho de reconhecimento do mundo espiritual. E, pela graça de Deus, saí logo dessa... Mas buscávamos alternativas, a uma sociedade que percebíamos doente...
Ouvíamos Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Rolling Stones, os cantores e bandas do Festival de Woodstock, o musical Hair, Bob Dylan, Janis Joplin e muitos outros. Continuava o meu gosto pela leitura. E, pouco a pouco, a iniciação no hinduísmo, budismo e cristianismo... Foi um início de aprendizado. Eu começava a perder a inocência. E começava a deixar de ser ateu...
A partir daí, e definitivamente, tive a plena consciência de que seria pelo caminho da paz a minha ação futura. Mas sabia também que o mundo estava muito longe disso... O sonho de 1968 ainda estava muito longe. E eu teria que saber esperar...
Enquanto isso... Muito aprendizado... Muita luta... Muita determinação, no geral... Mas muitos erros, indecisões e tentativas de acerto... Estudo e de trabalho. Lazer e "escapadas"...
Para conseguir as mudanças necessárias, fui percebendo que precisaria ter muita saúde, e muita paciência, e estudo, e trabalho, e preparo...; e precisaria também me aproximar mais de Deus. Mais e mais... Muito mais. Se fosse mesmo para ser alguma coisa comigo, que eu fosse fazer parte da grande transformação que precisávamos, só Ele poderia me conduzir... Mas eu teria que fazer por merecer... E saber esperar, que a minha hora haveria de chegar... Na verdade, em 1968, o que sabíamos nós, que queríamos mudar o mundo? Quase nada...Sabíamos apenas sonhar... Alguns, quiseram logo alcançar o impossível, e pereceram. Outros, se enredaram no caminho de outras ilusões e de outras espertezas, e pereceram ou estão a caminho de perecer... E os vi caindo... À direita e à esquerda... Então, eu olho à minha esquerda, e tem alguém me dizendo: EU SOU O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA...
Somos parte de algo maior, muito maior...
terça-feira, 13 de novembro de 2012
3 - Minha Primeira Campanha Política: 2012 - GUSTAVO FRUET - Parte 3
4.1 - AINDA O GOLPE DE 1964
Escrevo este depoimento pensando nos antepassados, e também nas novas gerações. Aqui, abro parêntesis:
Quarta-feira passada (dia 7), fui à cerimônia de entrega do Prêmio Fani Lerner,
[O Prêmio Fani Lerner é promovido pelo Instituto Jaime Lerner, e tem por finalidade valorizar projetos desenvolvidos com crianças de zero a quatorze anos de idade em Instituições Sociais Públicas e Privadas, ONGs e entidades mantenedoras de projetos sociais no Paraná. O Prêmio destina-se às instituições que atuam diretamente com projetos nas seguintes áreas de atuação: educação, meio ambiente, saúde, erradicação do trabalho infantil e assistência social]
, e lá estavam o amigo Gerson Guelmann e o nosso ex-governador e querido prefeito Jaime Lerner. Jaime foi amigo, muito próximo, de meu primo Veveco (Álvaro Mariano Teixeira Hardy, mineiro e arquiteto)...[sobre a família Hardy: é uma família de arquitetos (sou a "ovelha negra", engenheiro...): meu avô Raphäel, arquiteto, o tio Raphael Hardy Filho, arquiteto (minha avó Marcília o chamava de Faé, ou Fézinho, que vem de Rafaézinho, e tia Ló - a sua esposa Luzia - o chamava de Hardy, pronunciando Ardí, do francês, ou belga; meu pai, que foi da U.S. Air Force, ficou conhecido em Curitiba como major Rárdi, que era seu "nome de guerra" na FAB - Força Aérea Brasileira...), meu primo Veveco, arquiteto, sua esposa e filhas (Marisa, Mariana e Joana), também arquitetas, e meu filho, Rodolfo, também arquiteto...]
Marisa (esposa), Veveco, Bituca (Milton Nascimento) e
Fernando Navarro, em foto do arquivo do Clube da Esquina
E o por que desta digressão? Porque a cerimônia foi no cinema do Centro Israelita do Paraná, e estava eu com outro amigo, Emmanuel Faigenblum, e - na saída - fui convidado por ele a visitar o Museu do Holocausto... Na entrada, tomei nota de uma frase do escritor, sobrevivente do Holocausto, e Prêmio Nobel da Paz, Elie Wiesel: "Esquecer as vítimas é como matá-las novamente"...
Imediatamente, lembrei de meu pai. E da "Revolução" de Março de 1964... E de atrocidades... E de atrocidades vividas, pessoalmente, e contra meu povo... E da cultura e dos hábitos viciosos que produziram e produzem esse estado de coisas... Essa cultura da indiferença, da violência e da criminalidade... E da criminalidade e dos crimes sem acusados e sem culpados...
Aliás, por que das "aspas" na "Revolução"? Porque muito pouco mudou... As "revoluções" e os "golpes" não costumam ter essa capacidade... Salvo raríssimas exceções, e a um custo muito elevado, nas revoluções violentas, necessariamente com sustentação militar, e que têm como consequência governos ditatoriais... Ou nas revoluções não-violentas (atuando na relatividade da Paz), um pouco mais frequentes e bem mais frutificantes... Na verdade, "para resolver um problema, precisamos primeiro mudar a consciência que produziu o problema" (Albert Einstein, 1879-1955, Prêmio Nobel de Física de 1921, eleito "o mais memorável físico de todos os tempos", em 2009, por 100 de seus renomados pares)... Em outras palavras, "precisamos mudar por dentro"...
Na verdade mesmo, se o "outro lado" (o lado de meu pai) tivesse ganho, por certo as coisas seriam diferentes, mas não necessariamente para melhor... Seria um outro tipo de tragédia... Que também devemos evitar...
Quanto à "Revolução Redentora de 1964", que fora feita "contra os comunistas e os corruptos"... Bem..., cassou e caçou os comunistas e seus "aliados"... Quanto aos corruptos e corruptores...: no geral, no geral mesmo, falando sério, continuaram "os mesmos de sempre": como sempre, "mamando nas tetas do Estado"... Também ocorreu que - em alguns outros casos - assumiram novas "chefias" e "comandantes", no meio político, empresarial e militar: um outro poder (UDN e militares) "se alevantava"... Com gente séria, com gente boa, mas também - e principalmente - com os aproveitadores de sempre... Mas houve também o que melhorasse: houve modernização; e houve também algumas boas intenções. Mas ocorreu também o que não precisaria ter acontecido, e que não ocorreria se nós, brasileiros, tivéssemos tido o bom senso de nos entendermos e o bom senso de sermos solidários entre nós, para - só assim - defendermos melhor nossos próprios interesses e os interesses de nosso povo. Se assim fizéssemos, não teríamos entrado na "Guerra Fria USA-URSS"; que, afinal, não era - definitivamente - problema nosso... Mas, desgraçadamente, nos comportamos como se fosse... Na realidade, não fomos suficientemente patriotas, para ver - acima dos interesses partidários - os interesses do povo e da nação.
Por isso, tenho a obrigação de relatar certos fatos (em especial para os mais jovens)... Vamos a eles:
4.1.1. O "CERCO" DO PALÁCIO GUANABARA
"O Palácio da Guanabara está sendo atacado, neste momento, por um bando
de desesperados. Fuzileiros, deixem suas armas, porque vocês estão sendo
tocados por um oficial inescrupuloso. Almirante Aragão! Almirante Aragão!
Assassino monstruoso! Incestuoso miserável. Deixe seus soldados e venha
decidir comigo essa parada. Almirante Aragão! Não se aproxime porque eu
te mato com o meu révolver!"
(palavras de Carlos Lacerda, em 1.º de abril de 1964, desafiando o Almirante Aragão, por uma rede de rádio. O Almirante protegia o Palácio Laranjeiras, residência do Presidente da República no Rio de Janeiro, situado não muito longe do Palácio Guanabara, sede do Governo Estadual, onde se encontrava Lacerda)
Sabe-se que Aragão solicitou autorização ao Presidente João Goulart para atacar o Palácio Guanabara. A autorização foi negada. Posteriormente, quando o General Amauri Kruel (comandante do II Exército, com sede em São Paulo), comunicou ao Presidente a decisão de aderir ao movimento armado, a situação do Presidente foi se deteriorando, com a adesão de guarnições do Exército, no Rio de Janeiro, ao "movimento armado". O "dispositivo militar" do Presidente foi perdendo mais e mais sustentação... Iniciavam-se as fraturas, céleres... Jango voou para Brasília, onde ainda pensava resistir. Também aí não houve apoio político ou militar... Depois, a viagem para Porto Alegre, onde Leonel Brizola e o III Exército mantinham o controle da situação. Nos pampas, novas avaliações. Finalmente, o bom senso prevaleceu: era derrota certa (com os USA do outro lado), ou uma luta fratricida que dividiria o país (com o lado de Jango inevitavelmente aliado à URSS). Tempos de "Guerra Fria"... De POA, finalmente, partiram para o exílio, no Uruguai...
E que foi feito do Almirante Cândido da Costa Aragão?
Foi imediatamente preso. Não fugiu. Ou não conseguiu fugir... Foi barbaramente torturado, conforme relato abaixo. Motivo para não ter fugido, talvez? Havia, no Brasil, uma tradição de respeito mútuo entre a oficialidade militar, mesmo entre adversários. Que seria parte, mesmo, do "esprit de corps" das instituições militares... E parte, também, da compreensível solidariedade de "camaradas de armas" e de profissionais civis também (atitude normal e corriqueira de compreensão mútua entre profissionais de engenharia, medicina, direito e demais profissões...). Mas o Almirante Aragão era a figura mais notória da "quebra de hierarquia", que ameaçara alastrar-se pelas Forças Armadas e que tinha sido, sim, o estopim da "bomba", já armada, que desencadearia o movimento militar, com apoio civil. Teria se tornado excessivamente ameaçador... E isso foi real... Mas não foi só isso, porque não fizeram o que fizeram apenas com ele, um Almirante, mas também com oficiais menos graduados, com sargentos, praças, estudantes, artistas, trabalhadores em geral. Enfim, com qualquer um que fosse identificado como ameaça ao regime ou, simplesmente, inimigo pessoal de algum poderoso de plantão...
O escritor e jornalista Carlos Heitor Cony, membro da Academia Brasileira de Letras, publicou, no Correio da Manhã, carta escrita pela filha do almirante Aragão, relatando que:
"seu pai, vítima da maldade, ódio e ferocidade, tornara-se um trapo humano na prisão, perdendo inclusive a saúde mental devido às torturas". Ficou registrado também que o Almirante Aragão, devido aos maus tratos que recebeu na prisão, ficou cego de um olho (mal menor, comparado à perda das faculdades mentais...).
[O Correio da Manhã foi um conceituado jornal diário matutino carioca, publicado de 1901 a 1974. Embora tivesse inicialmente apoiado a eclosão do movimento militar, foi - gradualmente - se afastando dos "revolucionários" e de suas práticas; o jornal, então violentamente perseguido, acabou "fechando as portas", depois da prisão da proprietária Niomar Moniz Sodré, além de seus principais redatores; também foi "sufocado" pela falta de verbas publicitárias, inclusive aquelas antes oriundas das empresas privadas; todos, sem exceção, sob inescapável pressão do governo ditatorial]
Muitos, que combateram e combatem a apuração da verdade quanto à tortura contra prisioneiros, sob custódia do Estado, alegam que havia uma guerra contra terroristas. Num certo ponto, isso foi verdade, e - registre-se - isso ocorreu em relação a poucos, pouquíssimos. Foram pouquíssimos os guerrilheiros aqui no Brasil... E muito menos ainda os terroristas... O que houve mesmo, já no mesmo dia da vitória do "movimento militar", foi a ação dos "vencedores", que venceram "sem disparar um só tiro" (porque - registre-se - do outro lado não houve reação), e saíram "matando e torturando" prisioneiros indefesos...
Isso tem um nome (inexplicavelmente, nunca mencionado): covardia. E na origem da covardia, há sempre pelo menos quatro "gigantes da alma": a ignorância, a prepotência, o ódio e o medo. Será que não podem e não poderiam imaginar as consequências junto aos familiares, cônjuges e filhos? Em alguns casos, a única saída digna, em face da impunidade vigente, foi tentar "fazer justiça com as próprias mãos"... E correndo riscos, por participar de um "bando", muitas vezes de meninos, contra o Estado Organizado (e torturador...). Enquanto, do outro lado, o dos "poderosos", o risco era mínimo; em alguns casos, como o dos "generais" e "comandantes", quase nulo... Mas, isso, os algozes - de ontem e de hoje - não querem entender... Não lhes interessa esse assunto... Sempre estiveram bem protegidos... Só o que é capaz de movê-los (perdão, comportam-se como se fossem "inamovíveis" e "inimputáveis"...; só os que aparentemente se movem são seus subordinados...)... é o MEDO... De ver acontecer, consigo mesmos, o que não querem nem saber se está acontecendo... Principalmente com os excluídos, que devem - por certo - merecer a própria sorte... Cada um, que trate de si...
"As ordens? Resolva! Pau neles! Em quem? Ora, caiu na rede é peixe, rapá! Ladrão, viciado, traficante, mendigo, matador, filhinho-de-papai, cuequinha-de-seda, "esquerdinha", prostituta, filho-da-puta, "malaco", bicha, pivete, travesti, "trombadinha", papo-cabeça, cabeção, pobre... Cê tá entendendo? Toda essa "politicalha"... "Caiu", se "não tiver grana", fodeu... Fazê o que então? Se for o caso, dá uma geral (não precisa nem o "chefe" mandar...)... Revista... Aperta... Arroxa... Por dentro e por fora... Quem? Qualquer um, se "tiver por baixo", meu! Vai ter que se explicar... Mas não vai "se meter com o neguinho errado"... Vê lá o que faz! Se for "diferente de nós", gente estranha, paraíba, gaúcho, baiano, estrangeiro, "falô enrolado", nós mostra que o cara é mais diferente ainda, tá entendendo?... Põe o bicho no lugar!... Sem preconceito... Tudo igual! Baixa o pau! E se tiver grana, e não for "vermelho"? Bem, aí é diferente... Só tem que pagar "pedágio"... Mas se o cara não tem padrinho e é perigoso... Tem que ver se tá sozinho ou não... Tem mais gente? Não? Então, tem que achar os outros, tem que acabar com os quadrilheiros... Aí vale tudo... Terror... Assusta... Arrebenta... O cara vai ter que "dançar o miudinho"... Até chegar no "aparelho"... Mas vê lá o que você vai fazer... Não vai deixar marca... É só o que falta... passar recibo não! Sabe como? Respeita as "normas"... "Estupra mas não mata"! Passou do "ponto"? "Apagou" o cara? Some com o "presunto"! "Bandido bom é bandido morto"! (ou então deixa que o mané fique pra sempre "fora da casinha", entendeu?... "Sem-teto não é testemunha"...)... E se for pra agradar o chefe? Bom, vê lá... Pedido do chefe, cara, é ordem! Faz qualquer coisa! Serviço bem feito! Faz o que o homem mandou... Tratamento VIP... Pra STF nenhum 'botá defeito'..."
Precisa dizer mais?
Da minha parte, sim. O que eu não sabia, à época, porque era muito jovem, era que:
1 - Meu pai tinha um pacto, com minha mãe. Ela cuidava da sobrevivência dos filhos. Ele, cuidaria da política, porque "o velho" estava "metido" em algo muito, muito arriscado... E o que era mais "arriscado", acabei aprendendo, é que o "velho" se incomodava em ver gente morando em favelas, se "torturava" em ver crianças e pedintes nas ruas... Queria mudanças...
2 - Ele foi torturado e humilhado. Não sei em qual ou quais ocasiões, pois foi preso muitas vezes... Em algumas situações, passou a misturar a fantasia e a realidade. Em outras, tinha "visões" de "fantasmas" e pesadelos terríveis... Mas isso não era aparente, não podia ser visto pela maior parte das pessoas, inclusive pelos seus filhos... A confirmação desses fatos obtive muito tempo depois, por depoimentos de testemunhas que conviveram com ele; inclusive, por parentes de gente "do outro lado"... Fui "juntando as peças"...
3 - Mas não foi fácil "juntar as peças". A maior parte das pessoas que são torturadas não falam. Guardam a dor e a humilhação para si. O que mais sofre, na tortura, não é o corpo, é a alma... E os torturadores, por outras razões, também não falam... É o "silêncio dos vencedores"... E o "silêncio dos perdedores"...
4 - Meu pai tinha treinamento militar, para resistir à tortura, porque foi rigorosamente educado por 3 anos, quando serviu na U.S. Air Force (no tempo da 2a. Guerra Mundial)... Então, pode ter resistido demais... E, de repente, "queimou um fusível"... É a última defesa do corpo, contra a dor que não se pode suportar...
5 - A Aeronáutica, comprovadamente, teve - em seus quadros - em especial no Rio de Janeiro, um terrível "bando de torturadores" e sádicos, de "alto nível"; afinal, é uma "tropa de elite", e eram comandados por oficiais muito bem "treinados"... Torturaram, e "acabaram" com o canto, inclusive, de Geraldo Vandré... Entre tantos outros... Impunes, nesta vida... Sabemos, a situação não foi (e provavelmente não é) muito diferente, nas demais Armas... Meu pai conviveu também, por muitos anos, com essa gente, no Rio de Janeiro...
6 - Segundo relato pessoal de minha mãe, ela não aguentou os problemas de saúde mental (que se transferem também para o corpo) e os "surtos" de meu pai. E "pediu" a separação, em 1977-78, depois de mais de 30 anos de casamento... Depois disso, ele entrou em desespero e depressão, continuada... Minha mãe, acho que nunca soube tudo que ele sofreu...; também os filhos... não sabiam - nem de longe - de toda a história... Essas coisas não se falam, silenciam-se...
7 - Anos depois da separação, e depois de longa agonia, em 1988, o Major Hardy, como era conhecido por seus alunos, e pais de alunos, suicidou-se.
Acompanhei o corpo ao IML. Minha irmã, Emília, puxou uma salva de palmas, no sepultamento...
A solução?... Em vias de completar 64 anos, diria... EDUCAÇÃO... Em profundidade... SOLIDARIEDADE... COMPARTILHAMENTO... Saúde (no corpo), sanidade (mental) e santidade (no espírito)... E menos... Menos pretensão... Geral...
Escrevo este depoimento pensando nos antepassados, e também nas novas gerações. Aqui, abro parêntesis:
Quarta-feira passada (dia 7), fui à cerimônia de entrega do Prêmio Fani Lerner,
[O Prêmio Fani Lerner é promovido pelo Instituto Jaime Lerner, e tem por finalidade valorizar projetos desenvolvidos com crianças de zero a quatorze anos de idade em Instituições Sociais Públicas e Privadas, ONGs e entidades mantenedoras de projetos sociais no Paraná. O Prêmio destina-se às instituições que atuam diretamente com projetos nas seguintes áreas de atuação: educação, meio ambiente, saúde, erradicação do trabalho infantil e assistência social]
, e lá estavam o amigo Gerson Guelmann e o nosso ex-governador e querido prefeito Jaime Lerner. Jaime foi amigo, muito próximo, de meu primo Veveco (Álvaro Mariano Teixeira Hardy, mineiro e arquiteto)...[sobre a família Hardy: é uma família de arquitetos (sou a "ovelha negra", engenheiro...): meu avô Raphäel, arquiteto, o tio Raphael Hardy Filho, arquiteto (minha avó Marcília o chamava de Faé, ou Fézinho, que vem de Rafaézinho, e tia Ló - a sua esposa Luzia - o chamava de Hardy, pronunciando Ardí, do francês, ou belga; meu pai, que foi da U.S. Air Force, ficou conhecido em Curitiba como major Rárdi, que era seu "nome de guerra" na FAB - Força Aérea Brasileira...), meu primo Veveco, arquiteto, sua esposa e filhas (Marisa, Mariana e Joana), também arquitetas, e meu filho, Rodolfo, também arquiteto...]
Marisa (esposa), Veveco, Bituca (Milton Nascimento) e
Fernando Navarro, em foto do arquivo do Clube da Esquina
E o por que desta digressão? Porque a cerimônia foi no cinema do Centro Israelita do Paraná, e estava eu com outro amigo, Emmanuel Faigenblum, e - na saída - fui convidado por ele a visitar o Museu do Holocausto... Na entrada, tomei nota de uma frase do escritor, sobrevivente do Holocausto, e Prêmio Nobel da Paz, Elie Wiesel: "Esquecer as vítimas é como matá-las novamente"...
Imediatamente, lembrei de meu pai. E da "Revolução" de Março de 1964... E de atrocidades... E de atrocidades vividas, pessoalmente, e contra meu povo... E da cultura e dos hábitos viciosos que produziram e produzem esse estado de coisas... Essa cultura da indiferença, da violência e da criminalidade... E da criminalidade e dos crimes sem acusados e sem culpados...
Aliás, por que das "aspas" na "Revolução"? Porque muito pouco mudou... As "revoluções" e os "golpes" não costumam ter essa capacidade... Salvo raríssimas exceções, e a um custo muito elevado, nas revoluções violentas, necessariamente com sustentação militar, e que têm como consequência governos ditatoriais... Ou nas revoluções não-violentas (atuando na relatividade da Paz), um pouco mais frequentes e bem mais frutificantes... Na verdade, "para resolver um problema, precisamos primeiro mudar a consciência que produziu o problema" (Albert Einstein, 1879-1955, Prêmio Nobel de Física de 1921, eleito "o mais memorável físico de todos os tempos", em 2009, por 100 de seus renomados pares)... Em outras palavras, "precisamos mudar por dentro"...
Na verdade mesmo, se o "outro lado" (o lado de meu pai) tivesse ganho, por certo as coisas seriam diferentes, mas não necessariamente para melhor... Seria um outro tipo de tragédia... Que também devemos evitar...
Quanto à "Revolução Redentora de 1964", que fora feita "contra os comunistas e os corruptos"... Bem..., cassou e caçou os comunistas e seus "aliados"... Quanto aos corruptos e corruptores...: no geral, no geral mesmo, falando sério, continuaram "os mesmos de sempre": como sempre, "mamando nas tetas do Estado"... Também ocorreu que - em alguns outros casos - assumiram novas "chefias" e "comandantes", no meio político, empresarial e militar: um outro poder (UDN e militares) "se alevantava"... Com gente séria, com gente boa, mas também - e principalmente - com os aproveitadores de sempre... Mas houve também o que melhorasse: houve modernização; e houve também algumas boas intenções. Mas ocorreu também o que não precisaria ter acontecido, e que não ocorreria se nós, brasileiros, tivéssemos tido o bom senso de nos entendermos e o bom senso de sermos solidários entre nós, para - só assim - defendermos melhor nossos próprios interesses e os interesses de nosso povo. Se assim fizéssemos, não teríamos entrado na "Guerra Fria USA-URSS"; que, afinal, não era - definitivamente - problema nosso... Mas, desgraçadamente, nos comportamos como se fosse... Na realidade, não fomos suficientemente patriotas, para ver - acima dos interesses partidários - os interesses do povo e da nação.
Por isso, tenho a obrigação de relatar certos fatos (em especial para os mais jovens)... Vamos a eles:
4.1.1. O "CERCO" DO PALÁCIO GUANABARA
"O Palácio da Guanabara está sendo atacado, neste momento, por um bando
de desesperados. Fuzileiros, deixem suas armas, porque vocês estão sendo
tocados por um oficial inescrupuloso. Almirante Aragão! Almirante Aragão!
Assassino monstruoso! Incestuoso miserável. Deixe seus soldados e venha
decidir comigo essa parada. Almirante Aragão! Não se aproxime porque eu
te mato com o meu révolver!"
(palavras de Carlos Lacerda, em 1.º de abril de 1964, desafiando o Almirante Aragão, por uma rede de rádio. O Almirante protegia o Palácio Laranjeiras, residência do Presidente da República no Rio de Janeiro, situado não muito longe do Palácio Guanabara, sede do Governo Estadual, onde se encontrava Lacerda)
Sabe-se que Aragão solicitou autorização ao Presidente João Goulart para atacar o Palácio Guanabara. A autorização foi negada. Posteriormente, quando o General Amauri Kruel (comandante do II Exército, com sede em São Paulo), comunicou ao Presidente a decisão de aderir ao movimento armado, a situação do Presidente foi se deteriorando, com a adesão de guarnições do Exército, no Rio de Janeiro, ao "movimento armado". O "dispositivo militar" do Presidente foi perdendo mais e mais sustentação... Iniciavam-se as fraturas, céleres... Jango voou para Brasília, onde ainda pensava resistir. Também aí não houve apoio político ou militar... Depois, a viagem para Porto Alegre, onde Leonel Brizola e o III Exército mantinham o controle da situação. Nos pampas, novas avaliações. Finalmente, o bom senso prevaleceu: era derrota certa (com os USA do outro lado), ou uma luta fratricida que dividiria o país (com o lado de Jango inevitavelmente aliado à URSS). Tempos de "Guerra Fria"... De POA, finalmente, partiram para o exílio, no Uruguai...
E que foi feito do Almirante Cândido da Costa Aragão?
Foi imediatamente preso. Não fugiu. Ou não conseguiu fugir... Foi barbaramente torturado, conforme relato abaixo. Motivo para não ter fugido, talvez? Havia, no Brasil, uma tradição de respeito mútuo entre a oficialidade militar, mesmo entre adversários. Que seria parte, mesmo, do "esprit de corps" das instituições militares... E parte, também, da compreensível solidariedade de "camaradas de armas" e de profissionais civis também (atitude normal e corriqueira de compreensão mútua entre profissionais de engenharia, medicina, direito e demais profissões...). Mas o Almirante Aragão era a figura mais notória da "quebra de hierarquia", que ameaçara alastrar-se pelas Forças Armadas e que tinha sido, sim, o estopim da "bomba", já armada, que desencadearia o movimento militar, com apoio civil. Teria se tornado excessivamente ameaçador... E isso foi real... Mas não foi só isso, porque não fizeram o que fizeram apenas com ele, um Almirante, mas também com oficiais menos graduados, com sargentos, praças, estudantes, artistas, trabalhadores em geral. Enfim, com qualquer um que fosse identificado como ameaça ao regime ou, simplesmente, inimigo pessoal de algum poderoso de plantão...
O escritor e jornalista Carlos Heitor Cony, membro da Academia Brasileira de Letras, publicou, no Correio da Manhã, carta escrita pela filha do almirante Aragão, relatando que:
"seu pai, vítima da maldade, ódio e ferocidade, tornara-se um trapo humano na prisão, perdendo inclusive a saúde mental devido às torturas". Ficou registrado também que o Almirante Aragão, devido aos maus tratos que recebeu na prisão, ficou cego de um olho (mal menor, comparado à perda das faculdades mentais...).
[O Correio da Manhã foi um conceituado jornal diário matutino carioca, publicado de 1901 a 1974. Embora tivesse inicialmente apoiado a eclosão do movimento militar, foi - gradualmente - se afastando dos "revolucionários" e de suas práticas; o jornal, então violentamente perseguido, acabou "fechando as portas", depois da prisão da proprietária Niomar Moniz Sodré, além de seus principais redatores; também foi "sufocado" pela falta de verbas publicitárias, inclusive aquelas antes oriundas das empresas privadas; todos, sem exceção, sob inescapável pressão do governo ditatorial]
Muitos, que combateram e combatem a apuração da verdade quanto à tortura contra prisioneiros, sob custódia do Estado, alegam que havia uma guerra contra terroristas. Num certo ponto, isso foi verdade, e - registre-se - isso ocorreu em relação a poucos, pouquíssimos. Foram pouquíssimos os guerrilheiros aqui no Brasil... E muito menos ainda os terroristas... O que houve mesmo, já no mesmo dia da vitória do "movimento militar", foi a ação dos "vencedores", que venceram "sem disparar um só tiro" (porque - registre-se - do outro lado não houve reação), e saíram "matando e torturando" prisioneiros indefesos...
Isso tem um nome (inexplicavelmente, nunca mencionado): covardia. E na origem da covardia, há sempre pelo menos quatro "gigantes da alma": a ignorância, a prepotência, o ódio e o medo. Será que não podem e não poderiam imaginar as consequências junto aos familiares, cônjuges e filhos? Em alguns casos, a única saída digna, em face da impunidade vigente, foi tentar "fazer justiça com as próprias mãos"... E correndo riscos, por participar de um "bando", muitas vezes de meninos, contra o Estado Organizado (e torturador...). Enquanto, do outro lado, o dos "poderosos", o risco era mínimo; em alguns casos, como o dos "generais" e "comandantes", quase nulo... Mas, isso, os algozes - de ontem e de hoje - não querem entender... Não lhes interessa esse assunto... Sempre estiveram bem protegidos... Só o que é capaz de movê-los (perdão, comportam-se como se fossem "inamovíveis" e "inimputáveis"...; só os que aparentemente se movem são seus subordinados...)... é o MEDO... De ver acontecer, consigo mesmos, o que não querem nem saber se está acontecendo... Principalmente com os excluídos, que devem - por certo - merecer a própria sorte... Cada um, que trate de si...
"As ordens? Resolva! Pau neles! Em quem? Ora, caiu na rede é peixe, rapá! Ladrão, viciado, traficante, mendigo, matador, filhinho-de-papai, cuequinha-de-seda, "esquerdinha", prostituta, filho-da-puta, "malaco", bicha, pivete, travesti, "trombadinha", papo-cabeça, cabeção, pobre... Cê tá entendendo? Toda essa "politicalha"... "Caiu", se "não tiver grana", fodeu... Fazê o que então? Se for o caso, dá uma geral (não precisa nem o "chefe" mandar...)... Revista... Aperta... Arroxa... Por dentro e por fora... Quem? Qualquer um, se "tiver por baixo", meu! Vai ter que se explicar... Mas não vai "se meter com o neguinho errado"... Vê lá o que faz! Se for "diferente de nós", gente estranha, paraíba, gaúcho, baiano, estrangeiro, "falô enrolado", nós mostra que o cara é mais diferente ainda, tá entendendo?... Põe o bicho no lugar!... Sem preconceito... Tudo igual! Baixa o pau! E se tiver grana, e não for "vermelho"? Bem, aí é diferente... Só tem que pagar "pedágio"... Mas se o cara não tem padrinho e é perigoso... Tem que ver se tá sozinho ou não... Tem mais gente? Não? Então, tem que achar os outros, tem que acabar com os quadrilheiros... Aí vale tudo... Terror... Assusta... Arrebenta... O cara vai ter que "dançar o miudinho"... Até chegar no "aparelho"... Mas vê lá o que você vai fazer... Não vai deixar marca... É só o que falta... passar recibo não! Sabe como? Respeita as "normas"... "Estupra mas não mata"! Passou do "ponto"? "Apagou" o cara? Some com o "presunto"! "Bandido bom é bandido morto"! (ou então deixa que o mané fique pra sempre "fora da casinha", entendeu?... "Sem-teto não é testemunha"...)... E se for pra agradar o chefe? Bom, vê lá... Pedido do chefe, cara, é ordem! Faz qualquer coisa! Serviço bem feito! Faz o que o homem mandou... Tratamento VIP... Pra STF nenhum 'botá defeito'..."
Precisa dizer mais?
Da minha parte, sim. O que eu não sabia, à época, porque era muito jovem, era que:
1 - Meu pai tinha um pacto, com minha mãe. Ela cuidava da sobrevivência dos filhos. Ele, cuidaria da política, porque "o velho" estava "metido" em algo muito, muito arriscado... E o que era mais "arriscado", acabei aprendendo, é que o "velho" se incomodava em ver gente morando em favelas, se "torturava" em ver crianças e pedintes nas ruas... Queria mudanças...
2 - Ele foi torturado e humilhado. Não sei em qual ou quais ocasiões, pois foi preso muitas vezes... Em algumas situações, passou a misturar a fantasia e a realidade. Em outras, tinha "visões" de "fantasmas" e pesadelos terríveis... Mas isso não era aparente, não podia ser visto pela maior parte das pessoas, inclusive pelos seus filhos... A confirmação desses fatos obtive muito tempo depois, por depoimentos de testemunhas que conviveram com ele; inclusive, por parentes de gente "do outro lado"... Fui "juntando as peças"...
3 - Mas não foi fácil "juntar as peças". A maior parte das pessoas que são torturadas não falam. Guardam a dor e a humilhação para si. O que mais sofre, na tortura, não é o corpo, é a alma... E os torturadores, por outras razões, também não falam... É o "silêncio dos vencedores"... E o "silêncio dos perdedores"...
4 - Meu pai tinha treinamento militar, para resistir à tortura, porque foi rigorosamente educado por 3 anos, quando serviu na U.S. Air Force (no tempo da 2a. Guerra Mundial)... Então, pode ter resistido demais... E, de repente, "queimou um fusível"... É a última defesa do corpo, contra a dor que não se pode suportar...
5 - A Aeronáutica, comprovadamente, teve - em seus quadros - em especial no Rio de Janeiro, um terrível "bando de torturadores" e sádicos, de "alto nível"; afinal, é uma "tropa de elite", e eram comandados por oficiais muito bem "treinados"... Torturaram, e "acabaram" com o canto, inclusive, de Geraldo Vandré... Entre tantos outros... Impunes, nesta vida... Sabemos, a situação não foi (e provavelmente não é) muito diferente, nas demais Armas... Meu pai conviveu também, por muitos anos, com essa gente, no Rio de Janeiro...
6 - Segundo relato pessoal de minha mãe, ela não aguentou os problemas de saúde mental (que se transferem também para o corpo) e os "surtos" de meu pai. E "pediu" a separação, em 1977-78, depois de mais de 30 anos de casamento... Depois disso, ele entrou em desespero e depressão, continuada... Minha mãe, acho que nunca soube tudo que ele sofreu...; também os filhos... não sabiam - nem de longe - de toda a história... Essas coisas não se falam, silenciam-se...
7 - Anos depois da separação, e depois de longa agonia, em 1988, o Major Hardy, como era conhecido por seus alunos, e pais de alunos, suicidou-se.
Acompanhei o corpo ao IML. Minha irmã, Emília, puxou uma salva de palmas, no sepultamento...
A solução?... Em vias de completar 64 anos, diria... EDUCAÇÃO... Em profundidade... SOLIDARIEDADE... COMPARTILHAMENTO... Saúde (no corpo), sanidade (mental) e santidade (no espírito)... E menos... Menos pretensão... Geral...
[Na primeira foto acima, o então governador da Guanabara, em 1.º de abril de 1964, em mais uma de suas encenações e "bravatas". Na foto, evidentemente não aparece, por trás, o porta-aviões americano USS Forrestal e "escolta" de destróieres, vigilantes, próximos ao porto de Vitória (ES). Até aí, o "modus operandi" de Carlos Lacerda parecia funcionar; pelo menos para a "arquibancada"... Posteriormente, o udenista carioca seria também humilhado pelo general Costa e Silva e outros militares, "arquivando de vez" suas propaladas pretensões à presidência da República... Clique nas fotos para ampliar]
PS1: Assisti ontem, dia 12, na Reitoria, depoimentos para a Comissão Nacional da Verdade, entre os quais o depoimento de Tereza Urban, que conheci no dia 1.º de outubro passado, num evento onde estavam presentes também Paulo Salamuni, Marcelo Almeida e participantes do Conversa entre Amigos. Talvez essa convivência tenha estimulado também esse meu depoimento...
Assista a entrevista dela na Gazeta do Povo de 17/07/2011 em:
http://www.gazetadopovo.com.br/entrevistas/conteudo.phtml?id=1147949&tit=Teresa-a-Batista
e Uma Carta de Teresa Urban para Ismael, também na Gazeta do Povo, em 13/03/2012, no link:
http://www.gazetadopovo.com.br/blog/caixazero/?id=1233023
PS2: Aos que conviveram com a tortura, do lado dos torturadores, aos financiadores e colaboradores, tenho uma sugestão e um pedido: confessem os seus pecados, e de seus "colegas". Publicamente. O Brasil precisa ser passado a limpo. O mundo de nossos filhos e netos merece ser melhor. Nós precisamos conhecer a nossa História no que tem de pior, reconhecer os erros para não repeti-los. Só assim seremos verdadeiramente cristãos. Quem quer ser perdoado, precisa reconhecer os erros. O arrependimento e a reparação são absolutamente necessários. Ou estaremos condenados a repetir os mesmos erros, eternamente. Sem esse papo de reencarnação para resolver os mal-feitos... Perdão não se recebe incondicionalmente, é preciso merecer. Ou não existiria julgamento. Ou não existiria Deus... "Os que mais precisariam chorar, são os que não choram nunca"...
Sei que talvez seja pedir demais. Mas para os que "não se arrependem nunca", a Memória de Deus tem a Sua solução, esta sim final: o Esquecimento, que é a segunda morte (a morte definitiva), a morte espiritual. Sim, existe um Julgamento Perfeito... Neste, as Testemunhas e os Juízes são Cristo (ou o Messias, dá na mesma...) e todos os demais sacrificados pela impiedade...
Você crê nisso??
O POVO (eu, você e nossas famílias) - DO BRASIL, DO PARANÁ E DE CURITIBA - MERECE O NOSSO AMOR. NÓS TODOS MERECEMOS MAIS. VAMOS TODOS, UNIDOS, CONSTRUIR ESSE FUTURO DE RENOVAÇÃO? PARA ISSO, É PRECISO - MESMO - MUITA SERIEDADE.
PS1: Assisti ontem, dia 12, na Reitoria, depoimentos para a Comissão Nacional da Verdade, entre os quais o depoimento de Tereza Urban, que conheci no dia 1.º de outubro passado, num evento onde estavam presentes também Paulo Salamuni, Marcelo Almeida e participantes do Conversa entre Amigos. Talvez essa convivência tenha estimulado também esse meu depoimento...
Assista a entrevista dela na Gazeta do Povo de 17/07/2011 em:
http://www.gazetadopovo.com.br/entrevistas/conteudo.phtml?id=1147949&tit=Teresa-a-Batista
e Uma Carta de Teresa Urban para Ismael, também na Gazeta do Povo, em 13/03/2012, no link:
http://www.gazetadopovo.com.br/blog/caixazero/?id=1233023
PS2: Aos que conviveram com a tortura, do lado dos torturadores, aos financiadores e colaboradores, tenho uma sugestão e um pedido: confessem os seus pecados, e de seus "colegas". Publicamente. O Brasil precisa ser passado a limpo. O mundo de nossos filhos e netos merece ser melhor. Nós precisamos conhecer a nossa História no que tem de pior, reconhecer os erros para não repeti-los. Só assim seremos verdadeiramente cristãos. Quem quer ser perdoado, precisa reconhecer os erros. O arrependimento e a reparação são absolutamente necessários. Ou estaremos condenados a repetir os mesmos erros, eternamente. Sem esse papo de reencarnação para resolver os mal-feitos... Perdão não se recebe incondicionalmente, é preciso merecer. Ou não existiria julgamento. Ou não existiria Deus... "Os que mais precisariam chorar, são os que não choram nunca"...
Sei que talvez seja pedir demais. Mas para os que "não se arrependem nunca", a Memória de Deus tem a Sua solução, esta sim final: o Esquecimento, que é a segunda morte (a morte definitiva), a morte espiritual. Sim, existe um Julgamento Perfeito... Neste, as Testemunhas e os Juízes são Cristo (ou o Messias, dá na mesma...) e todos os demais sacrificados pela impiedade...
Você crê nisso??
O POVO (eu, você e nossas famílias) - DO BRASIL, DO PARANÁ E DE CURITIBA - MERECE O NOSSO AMOR. NÓS TODOS MERECEMOS MAIS. VAMOS TODOS, UNIDOS, CONSTRUIR ESSE FUTURO DE RENOVAÇÃO? PARA ISSO, É PRECISO - MESMO - MUITA SERIEDADE.
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
2 - Minha Primeira Campanha Política: 2012 - GUSTAVO FRUET - Parte 2
3 - A RENÚNCIA DE JÂNIO E A " CADEIA DA LEGALIDADE"
Ainda no Rio de Janeiro, participei de algumas campanhas políticas com meu pai. A essa altura, tinha sido informado, por ele, da sua filiação a um partido político ilegal, o Partido Comunista Brasileiro, também chamado de "o Partidão"...; então... ele (e seus "companheiros") tinham que agir na "clandestinidade", se não... podiam ser presos... Que democracia era aquela que não permitia que algumas pessoas se manifestassem livremente? Me disse que "nós" tínhamos candidatos, que eram "nossos", mas isso não podia ser dito "oficialmente"... Me lembro de distribuir "cédulas" dos nossos candidatos e de participar de "carreatas"... Na época, eram essas cédulas que os eleitores colocavam dentro de um envelope para votar... Dentro do envelope individual, pelo que lembro, ia a cédula do candidato a vereador, a cédula do candidato a deputado etc, quantas fossem necessárias...
Aquilo era animado... Eu gostava daquilo... Mas, afinal de contas, o que o meu pai e seus companheiros queriam? Meu pai me disse que o objetivo era "salvar" os pobres da exploração capitalista. E me mostrava as condições em que viviam os pobres. E se emocionava quando compartilhava os dramas e as situações, no meio do povo. E dizia que nós iríamos vencer. Ele me levava a conviver com os pobres, a jogar futebol com os mais pobres, a estudar em escolas sempre públicas, e me ensinava que um dia todos nós seríamos iguais. Que faríamos o governo dos trabalhadores e que todos nós, trabalhadores, éramos igualmente dignos: braçais, intelectuais, artistas, administradores, profissionais liberais, estudantes, todos. Explicava que uns precisavam dos outros e todos deviam ter um salário digno. E lembrava as palavras que (muito tempo depois) soube que eram bíblicas, e de autoria do Apóstolo Paulo: "Quem não quiser trabalhar, não deve comer"... Afinal, ele era um comunista de pais católicos e egresso do Colégio Arnaldo, de Belo Horizonte, instituição católica filiada à Congregação do Verbo Divino, fundada na Holanda com o propósito de anunciar "a palavra de Deus a todos os povos"...
Eu era muito pequeno, só ouvia... E ficava pensando, "cá com os meus botões"...
Me ensinou também que eu era neto de uma descendente dos índios brasileiros (minha avó Marcilia Silvino Hardy) e de belgas e irlandeses (de meu avô Raphael)... Por parte de mãe, neto de portugueses (da avó Alcina da Conceição Mendes de Carvalho e do avô Francisco Ribeiro Guimarães), e tataraneto de negros... Mas eu era bem lourinho, de olhos azuis e, no Rio de Janeiro, eu era o "russinho"... E jogava futebol com os "neguinho", entre os quais o melhor era o "Pelezinho"... E como eu não ficava muito atrás, alguns adultos, quando me viam "pegar na bola", me chamavam de "Pelezinho Branco"... Bons tempos, né?...
Nessa época, era só viver a vida, sem preocupações, de manhã na escola, depois futebol na rua, dia-após-dia... "naquelas tardes fagueiras"... Em casa, lia Millôr Fernandes, e escrevia meu próprio "jornalzinho"... Tudo 10! Sem stress...
No final de 1959, mudamos para Curitiba; meu pai fora transferido pela Aeronáutica... O ano de 1960 marcou, para mim, meu primeiro ano no Colégio Estadual do Paraná. Foi também o ano das eleições presidenciais. Os vencedores: Jânio Quadros (presidente, apoiado pela UDN) e João Goulart (vice, da coligação PSD-PTB).
Além disso, do Rio de Janeiro para Curitiba, de "russinho", passei a "polaquinho"... (então, tinha menos de 1m30cm...)
Em agosto de 1961, veio a renúncia de Jânio, e a ameaça (quase concretizada) de golpe militar, impedido pela ação do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Brizola era cunhado de Jango, e formou a "Cadeia da Legalidade", de rádios aliançadas, com o sinal originado na Rádio Guaíba de Porto Alegre. O rádio permanecia ligado lá em casa. Meu pai acompanhava as ordens, que emanavam de Porto Alegre, para saber o que fazer. A campanha acabou sendo vitoriosa, fez-se um acordo com os ministros militares, e João Goulart, o Jango, tomou posse.
4- O GOLPE DE 1964
Três anos depois, com nossa família já em Curitiba, veio o golpe de estado de 1964. Morávamos na Av. Iguaçu, próximo à República Argentina. Logo após o golpe, alguns militares foram à nossa casa prender meu pai, major da reserva (aposentado na carreira militar). Ele vestiu a farda de oficial da Aeronáutica, e foi. Lá ficou, presumivelmente na Base Aérea do Bacacheri. Quando saiu de nossa casa, foi a última vez que o vi vestir aquela farda azul (que outrora, em tempos ainda mais pregressos, fora cáqui...).
Como sou o filho mais velho, minha mãe me "escolhia", quando se tratava de fazer algumas coisas inevitáveis, mas não muito agradáveis... Dessa vez, fui encarregado de, junto com ela, queimar e incinerar livros; na avaliação dela, "proibidos" ou, na nomenclatura da época, "subversivos"... Um pouco dos livros, queimamos no quintal, outro tanto foi incinerado num fogão a lenha que ficava na cozinha... Para quem tinha, por toda a vida, sido educado a valorizar a educação, a cultura, o saber e os livros, foram momentos dolorosamente "inesquecíveis"... uma tristeza... um choque para não esquecer nunca mais...
Ficamos, com apreensão, esperando a volta de nosso pai. Foram alguns dias... A vida seguia, escola e estudos... Um dia o pai voltou, mas não o vi chegar...
Muito tempo depois, vim a saber das coisas que se passaram naqueles dias, nos quatro cantos do país... Mas, na época, por ser muito jovem, não tinha condições de avaliar toda a extensão e a gravidade dos fatos... Menos mal... Era isso quase que... "uma proteção"...
[Na foto acima, o ex-deputado constituinte Gregório Bezerra, do PCB, eleito em 1946 como o mais votado do estado de Pernambuco, quando levado preso em Recife, em 1.º de abril de 1964]
domingo, 11 de novembro de 2012
1 - Minha Primeira Campanha Política: 2012 - GUSTAVO FRUET - Parte 1
A ORIGEM DOS MEUS SONHOS
É uma introdução - necessária - para entender como "chegamos" à campanha de 2012...
1 - A MORTE DO PRESIDENTE VARGAS
Em agosto de 1954, no meio de grave crise, desencadeada após atentado contra o político oposicionista Carlos (Frederico Werneck de) Lacerda (1914-1977), e quando se exigia a deposição do presidente Getúlio (Dorneles) Vargas (1882-1954), com apoio de grande parte da imprensa e, ao final, já com apoio dos ministros militares, o presidente Vargas decidiu tirar a própria vida, suicidando-se. Deixou registrado, às pessoas mais próximas, que já estava suficientemente velho, e que seus opositores não iriam se contentar em derrubá-lo do poder, mas tinham também o objetivo de humilhá-lo de todas as formas, inclusive pessoais, e isso... não suportaria, seria demais... atingiria também parentes e amigos...
Nossa família morava no Rio de Janeiro, então capital da República. Meu pai, Francisco Hardy, era tenente da Aeronáutica, e trabalhava na Ilha do Governador, na Base Aérea do Galeão. Chegou em casa à noite (morávamos em Jacarepaguá, então Zona Rural; nossa moradia era longe do trabalho dele...), relatando fatos, entre os quais o episódio que se seguiu à morte do presidente, com o povo disposto a linchar Carlos Lacerda, que foi se esconder na "República do Galeão", mais precisamente na caixa d'água do aeroporto...
Tinha eu, então, apenas cinco anos de idade, e é o primeiro fato político que me recordo, porque estava muito próximo, tanto por razões familiares (meu pai), como por razões geográficas (morávamos na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal)... Aí... Eu comecei a ser inoculado com o vírus da política...
Eu ainda não sabia, mas antes disso, no início da década de 50, meu pai já arriscava a sua carreira na Aeronáutica, lutando junto com sargentos e sindicalistas (meia-dúzia de gatos pingados...), em Curitiba, pela criação da PETROBRAS. Hoje, uma empresa brasileira é uma das maiores petrolíferas do mundo... Com inúmeros defeitos, dirão... Com o que concordo... Mas... Se não fosse a empresa brasileira, a "parte do leão" estaria (ainda) indo para a British Petroleum, Exxon Mobil, Shell, Chevron, Petro China e outras... E os beneficiários das "mamatas" e "negociatas" estariam mais e mais concentrados em Londres, Paris, New York, San Francisco, Xangai e Pequim... Além de outros "spots" "menores", como Riad, Dubai e Caracas...
Acesse o Link: As 10 Maiores Petrolíferas do Mundo em 2012
2 - A LUTA PELA POSSE DE JK
Um ano depois, o presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976, mineiro, do PSD/PTB) já tinha sido eleito (ganhou em 15 estados, entre os quais Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia), concorrendo contra Juarez Távora (cearense, da UDN), que ganhou em 5 estados, entre os quais Ceará e Pernambuco, Adhemar de Barros (paulista, do PSP), que ganhou em 4 estados (incluindo São Paulo e Paraná) e no Distrito Federal (que, lembremos, era onde fica hoje o município do Rio de Janeiro...), e Plínio Salgado (PRP), que teve grande votação no Paraná.
Mas Juscelino ainda não tomara posse... Após a morte de Getúlio, assumira o vice Café Filho (do PSP), e tramava-se um golpe institucional, sustentado pelo PSP e pela UDN, para, com apoio das forças armadas, anular o resultado eleitoral, alegando que Juscelino não atingira a maioria absoluta. Pretendia-se, depois do jogo jogado, alterar as regras...
Café Filho adoeceu, e Carlos Luz, mineiro, e do PSD, mas inimigo de Juscelino, assumiu. Um mineiro, e do PSD, evitaria uma reação de Minas... Chegara a hora do golpe... Carlos Luz chamou o ministro da Guerra, General Henrique Duffles Teixeira Lott, também mineiro, mas legalista, e solicitou que entregasse sua carta de demissão. Lott prometeu que entregaria na manhã seguinte... A "missiva" que Lott entregou foi outra: o "toque de alvorada" de 11 de novembro de 1955 colocou as tropas e blindados da Vila Militar do Rio de Janeiro nas ruas. O Exército comandado por Lott ocupou o Rio de Janeiro, derrubou Carlos Luz e, doravante, garantiu a posse de JK e seu vice, João Goulart, o Jango.
Eu tinha apenas 6 anos, e o que recordo, desse dia, quando já anoitecia, é que meu pai chegou em casa relatando que tinha saído do Galeão, com alguns outros (poucos) companheiros, e que - ele e os companheiros da Força Aérea - tinham se integrado às tropas do Exército. Meu pai tinha entrado num tanque de guerra do Exército e tinham ido cercar para, se necessário, prender as tropas da Aeronáutica... E que tinham sido vitoriosos...
O menino de 6 anos que eu era, encheu-se de orgulho... Meu pai nunca mais teve sossego dentro da Aeronáutica (nem poderia...) e eu nunca mais deixei de me interessar pelas questões políticas e da nacionalidade... Nessa época, aprendi a ler, e tudo que eu queria era ler as notícias políticas, no Diário de Notícias, jornal da família Dantas, que era o jornal diário que meu pai comprava na época... Havia também, na capital federal, o Jornal do Brasil (um jornal de alto nível; na origem, nascido para defender a monarquia), O Globo (dos Marinho, e preferido pela classe média), a Última Hora (getulista, de Samuel Wainer), a Tribuna da Imprensa (lacerdista), o Correio da Manhã e outros, mas meu pai preferia o Diário de Notícias; ele me dizia que era o preferido pelos militares, pois era um bom jornal e trazia as notícias de interesse do pessoal das Forças Armadas...
[Na foto acima, já na campanha de 1960, aparecem - entrando em Cataguases, MG - o General Lott, candidato a Presidente (de óculos escuros), e Tancredo Neves, candidato a Governador de Minas Gerais; entre os dois, líder político local. Dizem que em seu discurso, no local, o General Lott (famoso por sua inabilidade política, referiu-se a Tancredo, ex-Secretário de Finanças de Minas Gerais, como "o homem que tinha conseguido fazer os mineiros pagar imposto". Tancredo perdeu a eleição para Magalhães Pinto...][CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIAR]
É uma introdução - necessária - para entender como "chegamos" à campanha de 2012...
1 - A MORTE DO PRESIDENTE VARGAS
Em agosto de 1954, no meio de grave crise, desencadeada após atentado contra o político oposicionista Carlos (Frederico Werneck de) Lacerda (1914-1977), e quando se exigia a deposição do presidente Getúlio (Dorneles) Vargas (1882-1954), com apoio de grande parte da imprensa e, ao final, já com apoio dos ministros militares, o presidente Vargas decidiu tirar a própria vida, suicidando-se. Deixou registrado, às pessoas mais próximas, que já estava suficientemente velho, e que seus opositores não iriam se contentar em derrubá-lo do poder, mas tinham também o objetivo de humilhá-lo de todas as formas, inclusive pessoais, e isso... não suportaria, seria demais... atingiria também parentes e amigos...
Nossa família morava no Rio de Janeiro, então capital da República. Meu pai, Francisco Hardy, era tenente da Aeronáutica, e trabalhava na Ilha do Governador, na Base Aérea do Galeão. Chegou em casa à noite (morávamos em Jacarepaguá, então Zona Rural; nossa moradia era longe do trabalho dele...), relatando fatos, entre os quais o episódio que se seguiu à morte do presidente, com o povo disposto a linchar Carlos Lacerda, que foi se esconder na "República do Galeão", mais precisamente na caixa d'água do aeroporto...
Tinha eu, então, apenas cinco anos de idade, e é o primeiro fato político que me recordo, porque estava muito próximo, tanto por razões familiares (meu pai), como por razões geográficas (morávamos na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal)... Aí... Eu comecei a ser inoculado com o vírus da política...
Eu ainda não sabia, mas antes disso, no início da década de 50, meu pai já arriscava a sua carreira na Aeronáutica, lutando junto com sargentos e sindicalistas (meia-dúzia de gatos pingados...), em Curitiba, pela criação da PETROBRAS. Hoje, uma empresa brasileira é uma das maiores petrolíferas do mundo... Com inúmeros defeitos, dirão... Com o que concordo... Mas... Se não fosse a empresa brasileira, a "parte do leão" estaria (ainda) indo para a British Petroleum, Exxon Mobil, Shell, Chevron, Petro China e outras... E os beneficiários das "mamatas" e "negociatas" estariam mais e mais concentrados em Londres, Paris, New York, San Francisco, Xangai e Pequim... Além de outros "spots" "menores", como Riad, Dubai e Caracas...
Acesse o Link: As 10 Maiores Petrolíferas do Mundo em 2012
2 - A LUTA PELA POSSE DE JK
Um ano depois, o presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976, mineiro, do PSD/PTB) já tinha sido eleito (ganhou em 15 estados, entre os quais Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia), concorrendo contra Juarez Távora (cearense, da UDN), que ganhou em 5 estados, entre os quais Ceará e Pernambuco, Adhemar de Barros (paulista, do PSP), que ganhou em 4 estados (incluindo São Paulo e Paraná) e no Distrito Federal (que, lembremos, era onde fica hoje o município do Rio de Janeiro...), e Plínio Salgado (PRP), que teve grande votação no Paraná.
Mas Juscelino ainda não tomara posse... Após a morte de Getúlio, assumira o vice Café Filho (do PSP), e tramava-se um golpe institucional, sustentado pelo PSP e pela UDN, para, com apoio das forças armadas, anular o resultado eleitoral, alegando que Juscelino não atingira a maioria absoluta. Pretendia-se, depois do jogo jogado, alterar as regras...
Café Filho adoeceu, e Carlos Luz, mineiro, e do PSD, mas inimigo de Juscelino, assumiu. Um mineiro, e do PSD, evitaria uma reação de Minas... Chegara a hora do golpe... Carlos Luz chamou o ministro da Guerra, General Henrique Duffles Teixeira Lott, também mineiro, mas legalista, e solicitou que entregasse sua carta de demissão. Lott prometeu que entregaria na manhã seguinte... A "missiva" que Lott entregou foi outra: o "toque de alvorada" de 11 de novembro de 1955 colocou as tropas e blindados da Vila Militar do Rio de Janeiro nas ruas. O Exército comandado por Lott ocupou o Rio de Janeiro, derrubou Carlos Luz e, doravante, garantiu a posse de JK e seu vice, João Goulart, o Jango.
Eu tinha apenas 6 anos, e o que recordo, desse dia, quando já anoitecia, é que meu pai chegou em casa relatando que tinha saído do Galeão, com alguns outros (poucos) companheiros, e que - ele e os companheiros da Força Aérea - tinham se integrado às tropas do Exército. Meu pai tinha entrado num tanque de guerra do Exército e tinham ido cercar para, se necessário, prender as tropas da Aeronáutica... E que tinham sido vitoriosos...
O menino de 6 anos que eu era, encheu-se de orgulho... Meu pai nunca mais teve sossego dentro da Aeronáutica (nem poderia...) e eu nunca mais deixei de me interessar pelas questões políticas e da nacionalidade... Nessa época, aprendi a ler, e tudo que eu queria era ler as notícias políticas, no Diário de Notícias, jornal da família Dantas, que era o jornal diário que meu pai comprava na época... Havia também, na capital federal, o Jornal do Brasil (um jornal de alto nível; na origem, nascido para defender a monarquia), O Globo (dos Marinho, e preferido pela classe média), a Última Hora (getulista, de Samuel Wainer), a Tribuna da Imprensa (lacerdista), o Correio da Manhã e outros, mas meu pai preferia o Diário de Notícias; ele me dizia que era o preferido pelos militares, pois era um bom jornal e trazia as notícias de interesse do pessoal das Forças Armadas...
[Na foto acima, já na campanha de 1960, aparecem - entrando em Cataguases, MG - o General Lott, candidato a Presidente (de óculos escuros), e Tancredo Neves, candidato a Governador de Minas Gerais; entre os dois, líder político local. Dizem que em seu discurso, no local, o General Lott (famoso por sua inabilidade política, referiu-se a Tancredo, ex-Secretário de Finanças de Minas Gerais, como "o homem que tinha conseguido fazer os mineiros pagar imposto". Tancredo perdeu a eleição para Magalhães Pinto...][CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIAR]
quinta-feira, 1 de novembro de 2012
Gustavo Fruet fala sobre metrô, orçamento municipal e transporte coletivo.
O futuro de Curitiba e dos curitibanos depende disso. A produtividade das empresas e, portanto, o fluxo e a produção de riquezas na cidade, depende - e muito - da infraestrutura. Só entendendo e enfrentando os reais problemas econômicos - PRODUTIVIDADE e ESCASSEZ - vamos conseguir construir uma Curitiba BELA e SOLIDÁRIA.