A ORIGEM DOS MEUS SONHOS
É uma introdução - necessária - para entender como "chegamos" à campanha de 2012...
1 - A MORTE DO PRESIDENTE VARGAS
Em agosto de 1954, no meio de grave crise, desencadeada após atentado contra o político oposicionista Carlos (Frederico Werneck de) Lacerda (1914-1977), e quando se exigia a deposição do presidente Getúlio (Dorneles) Vargas (1882-1954), com apoio de grande parte da imprensa e, ao final, já com apoio dos ministros militares, o presidente Vargas decidiu tirar a própria vida, suicidando-se. Deixou registrado, às pessoas mais próximas, que já estava suficientemente velho, e que seus opositores não iriam se contentar em derrubá-lo do poder, mas tinham também o objetivo de humilhá-lo de todas as formas, inclusive pessoais, e isso... não suportaria, seria demais... atingiria também parentes e amigos...
Nossa família morava no Rio de Janeiro, então capital da República. Meu pai, Francisco Hardy, era tenente da Aeronáutica, e trabalhava na Ilha do Governador, na Base Aérea do Galeão. Chegou em casa à noite (morávamos em Jacarepaguá, então Zona Rural; nossa moradia era longe do trabalho dele...), relatando fatos, entre os quais o episódio que se seguiu à morte do presidente, com o povo disposto a linchar Carlos Lacerda, que foi se esconder na "República do Galeão", mais precisamente na caixa d'água do aeroporto...
Tinha eu, então, apenas cinco anos de idade, e é o primeiro fato político que me recordo, porque estava muito próximo, tanto por razões familiares (meu pai), como por razões geográficas (morávamos na cidade do Rio de Janeiro, então Distrito Federal)... Aí... Eu comecei a ser inoculado com o vírus da política...
Eu ainda não sabia, mas antes disso, no início da década de 50, meu pai já arriscava a sua carreira na Aeronáutica, lutando junto com sargentos e sindicalistas (meia-dúzia de gatos pingados...), em Curitiba, pela criação da PETROBRAS. Hoje, uma empresa brasileira é uma das maiores petrolíferas do mundo... Com inúmeros defeitos, dirão... Com o que concordo... Mas... Se não fosse a empresa brasileira, a "parte do leão" estaria (ainda) indo para a British Petroleum, Exxon Mobil, Shell, Chevron, Petro China e outras... E os beneficiários das "mamatas" e "negociatas" estariam mais e mais concentrados em Londres, Paris, New York, San Francisco, Xangai e Pequim... Além de outros "spots" "menores", como Riad, Dubai e Caracas...
Acesse o Link: As 10 Maiores Petrolíferas do Mundo em 2012
2 - A LUTA PELA POSSE DE JK
Um ano depois, o presidente Juscelino Kubitschek (1902-1976, mineiro, do PSD/PTB) já tinha sido eleito (ganhou em 15 estados, entre os quais Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Bahia), concorrendo contra Juarez Távora (cearense, da UDN), que ganhou em 5 estados, entre os quais Ceará e Pernambuco, Adhemar de Barros (paulista, do PSP), que ganhou em 4 estados (incluindo São Paulo e Paraná) e no Distrito Federal (que, lembremos, era onde fica hoje o município do Rio de Janeiro...), e Plínio Salgado (PRP), que teve grande votação no Paraná.
Mas Juscelino ainda não tomara posse... Após a morte de Getúlio, assumira o vice Café Filho (do PSP), e tramava-se um golpe institucional, sustentado pelo PSP e pela UDN, para, com apoio das forças armadas, anular o resultado eleitoral, alegando que Juscelino não atingira a maioria absoluta. Pretendia-se, depois do jogo jogado, alterar as regras...
Café Filho adoeceu, e Carlos Luz, mineiro, e do PSD, mas inimigo de Juscelino, assumiu. Um mineiro, e do PSD, evitaria uma reação de Minas... Chegara a hora do golpe... Carlos Luz chamou o ministro da Guerra, General Henrique Duffles Teixeira Lott, também mineiro, mas legalista, e solicitou que entregasse sua carta de demissão. Lott prometeu que entregaria na manhã seguinte... A "missiva" que Lott entregou foi outra: o "toque de alvorada" de 11 de novembro de 1955 colocou as tropas e blindados da Vila Militar do Rio de Janeiro nas ruas. O Exército comandado por Lott ocupou o Rio de Janeiro, derrubou Carlos Luz e, doravante, garantiu a posse de JK e seu vice, João Goulart, o Jango.
Eu tinha apenas 6 anos, e o que recordo, desse dia, quando já anoitecia, é que meu pai chegou em casa relatando que tinha saído do Galeão, com alguns outros (poucos) companheiros, e que - ele e os companheiros da Força Aérea - tinham se integrado às tropas do Exército. Meu pai tinha entrado num tanque de guerra do Exército e tinham ido cercar para, se necessário, prender as tropas da Aeronáutica... E que tinham sido vitoriosos...
O menino de 6 anos que eu era, encheu-se de orgulho... Meu pai nunca mais teve sossego dentro da Aeronáutica (nem poderia...) e eu nunca mais deixei de me interessar pelas questões políticas e da nacionalidade... Nessa época, aprendi a ler, e tudo que eu queria era ler as notícias políticas, no Diário de Notícias, jornal da família Dantas, que era o jornal diário que meu pai comprava na época... Havia também, na capital federal, o Jornal do Brasil (um jornal de alto nível; na origem, nascido para defender a monarquia), O Globo (dos Marinho, e preferido pela classe média), a Última Hora (getulista, de Samuel Wainer), a Tribuna da Imprensa (lacerdista), o Correio da Manhã e outros, mas meu pai preferia o Diário de Notícias; ele me dizia que era o preferido pelos militares, pois era um bom jornal e trazia as notícias de interesse do pessoal das Forças Armadas...
[Na foto acima, já na campanha de 1960, aparecem - entrando em Cataguases, MG - o General Lott, candidato a Presidente (de óculos escuros), e Tancredo Neves, candidato a Governador de Minas Gerais; entre os dois, líder político local. Dizem que em seu discurso, no local, o General Lott (famoso por sua inabilidade política, referiu-se a Tancredo, ex-Secretário de Finanças de Minas Gerais, como "o homem que tinha conseguido fazer os mineiros pagar imposto". Tancredo perdeu a eleição para Magalhães Pinto...][CLIQUE NA FOTO PARA AMPLIAR]