Política Pirata. Pirate Politics.

Política Pirata. Pirate Politics. Por que este blog tem esse nome estranho, 'Política Pirata'... or 'Pirate Politics'? Para estarmos atentos da enormidade do que há de pirataria na política. Afinal, é a Política que faz a mediação entre dois campos de atuação do diabo: o Dinheiro (Economia) e a Guerra...

Desterrada a justiça, que é todo o reino senão pirataria? (Santo Agostinho)

O amor antes do poder Love before power
Então o Amor com o poder Then Love with power
Para destruir o Poder sem amor.
To destroy (the) Power without love.

"The Ocean is my church and my playground."

A política e o mundo só vão mudar quando nós mudarmos por dentro, e agirmos de acordo. E isso pode ir começando hoje; pense bem... Vamos nos perguntar se o que o nosso coração sente, o que a nossa cabeça pensa, o que nossa boca fala, e o que nossas mãos fazem... é AMOR... Nossos pensamentos, palavras e ações passam pelas peneiras da VERDADE, da BONDADE e da NECESSIDADE?

"The boisterous sea of liberty is never without a wave." (Thomas Jefferson, Oct.20th, 1820)

"Ninguém pode servir a dois senhores: não podeis servir a Deus e ao dinheiro"... (Lucas 16.13; Mateus 6.24)

"Mudar o mundo, amigo Sancho, não é loucura, nem utopia... É justiça!" (Dom Quixote de la Mancha, Miguel de Cervantes)

"Uma nação que valoriza seus privilégios acima de seus princípios, está a caminho de perder ambos." (Dwight Eisenhower)

"Para encontrar a solução de um problema, é preciso - primeiro - mudar a consciência que produziu o problema." (Albert Einstein)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Um pouco de História: Como e por que o General Kruel traiu o Presidente João Goulart?

Goulart - Kennedy - Kruel, em Washington, DC.
John Kennedy foi assassinado em 22/11/1963. 
João Goulart foi deposto em 01/04/1964, 
pouco mais de 4 meses depois.
Em março/abril de 1964, nem todos os golpistas que derrubaram o governo democrático, eram corruptos ou almejavam uma verdadeira democracia, como diziam. Entre os que estavam do outro lado, nem todos os governistas eram democratas ou almejavam o comunismo; e nem todos eram corruptos, ao contrário.
Mas é muito interessante saber como o comandante do II Exército (com sede em São Paulo), General Amaury Kruel (1901-1996), gaúcho de Santa Maria, amigo, homem de toda confiança e compadre do presidente João Goulart (1919-1976), e que foi extremamente decisivo na implementação do Golpe, tomou sua decisão e escolheu o seu lado, apesar de ser 'muy amigo' do presidente Jango. Uma decisão, sem dúvida, crucial.

Segue depoimento do Tenente-Coronel do Exército Erimá Pinheiro Moreira (na época Major), testemunha ocular da História, ao presidente da Comissão Municipal da Verdade do Município de São Paulo, Gilberto Natalini, a propósito do comportamento do General Amaury Kruel, Comandante do II Exército, nos momentos decisivos dos dias 31 de março e 1.º de abril de 1964 (inclusive com os detalhes da compra/venda do apoio do General à Revolução Redentora por US$ 1,200,000 - hum milhão e duzentos mil dólares; dinheiro que tinha - na época - poder de compra muito maior, e que foi entregue em 6 malas, por um grupo liderado pelo então presidente da FIESP). O que ninguém saberá, jamais, é como terá sido distribuída, ou embolsada, a totalidade da grana. O depoimento do Tenente Coronel também esclarece um pouco o destino de grande parte do dinheiro recebido pelo General e o posterior pedido de reforma pelo General Kruel (não muito tempo depois), e que - com isso - foi promovido a Marechal. Um rico Marechal.
Outra versão, esta oficial: Kruel teria mudado de lado diante da negativa do Presidente João Goulart de dissolver o CGT - Comando Geral dos Trabalhadores, organização intersindical, negando-se também a adotar política dura, de expurgo das esquerdas civil e militar dos comandos que ocupava no governo.
O mais provável, a se crer no detalhado depoimento do Tenente-Coronel, é que o então General tenha escolhido, naquele momento, unir o "o útil ao agradável" (para si mesmo); ou "relaxar e gozar". Vergonhoso. Decisões como essa definem destinos pessoais. E até mesmo rumos da História.
Por outro lado, com o apoio dos USA ao Golpe, o resultado final provavelmente já estivesse decidido, embora não se possa saber ao certo, como veremos.
A lógica diz que, apesar da nação e do exército brasileiros estarem irremediavelmente divididos ao meio, expostos a uma enorme fratura naquele momento, num relativo equilíbrio de forças, mas já pendendo para o lado afinal vencedor, foi no momento em que se tornou efetivo (conforme hoje a História documentada esclarece) o apoio militar norte-americano, manifestado a um dos lados e comunicado por vias diplomáticas ao presidente João Goulart - apoio militar a favor do lado afinal vencedor (o lado dos golpistas de 1964) -  foi neste momento que a balança fez importante inflexão e pendeu, com força, para os opositores do Governo. Nada mais poderia ser feito. A sorte tinha sido lançada.
Mas havia uma outra hipótese, talvez viável: com as guarnições da Vila Militar (I Exército, Rio de Janeiro) e o III Exército (Comando da Região Sul, com sede no Rio Grande do Sul, terra do Presidente) firmes do lado do Presidente João Goulart, o II Exército (São Paulo) era o fiel da balança. Com esses três Exércitos apoiando o Governo, as muito menos poderosas guarnições de Minas Gerais, que faziam parte do I Exército, estariam isoladas (embora houvesse, por trás, o fator USA; e o projetado desembarque das tropas norte-americanas, caso necessário). O IV Exército (Norte e Nordeste), o último que poderia restar contra o Governo (e, neste caso, certamente se acomodaria), pouco poderia fazer, se também acompanhasse a revolta iniciada pelo comandante das guarnições do Exército sediadas em Juiz de Fora, com apoio político do governador de Minas, Magalhães Pinto.
Naquele momento, sem o apoio e a traição de Kruel, o golpe talvez tivesse sido contido; e postergado. Não teria havido, como houve, numa só noite (de 31 de março para 1.º de abril), a manifestação de tantos generais a favor do golpe, num irresistível efeito dominó, unidos "para salvar o Brasil do perigo vermelho". Mas com nosso país tomado pelo turbilhão global da Guerra Fria, muitíssimo maior, poderoso e global; e a decisão dos norte-americanos com relação a nós, para assegurar com mão de ferro a supremacia deles nas Américas, nosso destino já tinha sido traçado. Era inexorável. Tudo o mais foi detalhe. E muitas vidas foram levadas de roldão, neste turbilhão. Faz parte (mas provavelmente o que ocorreu não deveria ter ocorrido, em nome da Pátria e da Democracia)... Nós nos conduzimos mal e nos dividimos, como Nação. Sobrou o que houve: a intervenção externa, "branca" e "silenciosa".







MANIFESTO DO GENERAL AMAURI KRUEL, COMANDANTE DO II EXÉRCITO, NO DIA
1.º DE ABRIL DE 1964

O II Exército, sob meu comando, coeso e disciplinado, unido em torno de seu chefe, acaba de assumir
atitude de grave responsabilidade com o objetivo de salvar a pátria em perigo, livrando-a do jugo
vermelho.
É que se tornou evidente a atuação acelerada do Partido Comunista para a posse do poder, partido agora mais do que nunca apoiado por brasileiros mal avisados que nem mesmo têm consciência do mal que se está gerando.
A recente crise, surgida na Marinha de Guerra, que se manifestou através de um motim de marinheiros e contou com a conivência de almirantes nitidamente de esquerda e a complacência de elementos do Governo Federal, a qual se justapôs a intromissão indébita de elementos estranhos para a solução de problema interno daquela Força Armada, permitiu ficasse bem definido o grau de infiltração comunista no meio militar.
O intenso trabalho do Partido Comunista no seio das Forças Armadas, desenvolvido principalmente no círculo das Praças e objetivando induzi-las à indisciplina, traz em seu bojo um princípio de divisão de forças que reflete enfraquecimento do seu poder reparador, na garantia das intituições.
A atitude assumida pelo II Exército está consubstanciada na reafirmação dos princípios democráticos
prescritos pela Constituição vigente. Inteiramente despida de qualquer caráter político-partidário, visa
exclusivamente neutralizar a ação comunista que se infiltrou em alguns órgãos governamentais e
principalmente nas direções sindicais, com o único propósito de assalto ao poder.
O II Exército, ao dar este passo de extrema responsabilidade para a salvação da pátria, manter-se-á fiel à Constituição e tudo fará no sentido da manutenção dos poderes constituídos, da ordem e da tranqüilidade.
Sua luta será contra os comunistas e seu objetivo será o de romper o cerco do comunismo que ora
compromete a autoridade do Governo da República.

Fonte: 1964: Golpe ou Contragolpe? - autor: Hélio Silva (1904-1995) - Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.