domingo, 28 de agosto de 2016

Sociólogo Jessé Sousa: A montagem do Impeachment. E o que está por trás



A esquerda brasileira deu alguns passos (no geral) bem intencionados, mas (muitos deles) equivocados e persistentes. Não se pode agir só com o coração. Para agir com a cabeça, que está acima e no centro, devem-se usar as duas mãos (esquerda e direita), os dois pés, as duas pernas e braços. E saber mandar; e usar a lei, com as suas consequências, o que é parte do exercício do poder.

E não engolir certas coisas, porque o "fígado" (que está à direita) não aceitará...

O que foi feito (por exemplo), em todo o processo de 'Impeachment' e de 'Lava Jato', para punir aqueles que publicaram e que vazaram documentos protegidos sob segredo de justiça? Nada. Isso é não saber mandar...

Amanhã, no Senado, a Presidente Dilma deve - necessariamente - explicar, para que o povo entenda (embora ela tenha, como se sabe, algumas dificuldades em se comunicar...), que o impeachment, por ser (principalmente) um processo político, para ser aprovado, precisava encontrar o país numa crise econômica, pois "não se derruba governo quando a economia vai bem". E a economia (e o povo) não estava(m) tão mal em 2014, quando a presidente foi reeleita; ou não teria sido reeleita.

Para que a crise não ocorresse, ou fosse minorada, com a enorme redução ocorrida no preço do petróleo, dos minérios e outras commodities que exportamos, o governo precisava - já em 2015 - aumentar impostos ou, alternativamente, ter a autorização do Congresso para investir e gastar (sem aumento de impostos). Só assim poderia continuar estimulando uma economia ferida. Não havia outra saída. E, no entanto, o Congresso 'fechou as torneiras' e impediu o Executivo de agir, manietando-o, sempre com argumentos políticos que fugiam do cerne do problema. Aliás, completamente diferente da ação recente do mesmo Congresso (e dos mesmos congressistas), que rapidamente aprovou(aram), logo após o início do atual governo interino, uma autorização para o governo Temer gastar R$ 170 bilhões a mais; e fez isso porque era - há muito tempo - absolutamente necessário.

Ou seja, esse impeachment e, pior, essa crise econômica, que penaliza os mais pobres com o desemprego, foi criação do próprio Congresso, nas atitudes e modos dos seus interesses privados.
Na corrupção, miseravelmente, há sempre interesses privados (ou não haveria corrupção); e calamidades públicas. Nesse caso, não é diferente: o nosso Congresso, fisiológico e corrupto, foi o maior instrumento utilizado (junto com o uso político da Lava Jato pela caixa de ressonância da grande imprensa) para criar essa farsa congressual, no meio da crise política e econômica.

Quais os objetivos? Depor a presidente, desrespeitando 54 milhões de eleitores; claro, já de olho em 2018. Mesmo que ao custo de criar uma monstruosa crise econômica, toda ela vendida como "culpa da Dilma"...

A presidente tem a obrigação de dar essa explicação, de forma clara, muito clara.

Assim, o povo entende; e não tenho visto isso (esse 'óbvio ululante') ser explicado. O que - lastimavelmente - não foi enfrentado da eleição de 2014 para cá. Faz parecer que entraram em parafuso...

Veja o vídeo da entrevista de Paulo Henrique Amorim com o sociólogo Jessé Souza, autor de diversos livros, entre os quais "A Tolice da Inteligência Brasileira", onde analisa a nossa condição de "colonizados até a alma" (sem perceber, ou reagiríamos; e por "retroalimentação", como uma imperceptível lavagem cerebral atuando em moto contínuo...).
Nessa entrevista, comenta as raízes históricas, sociológicas e culturais dos processos políticos e econômicos que estamos vivenciando nos últimos anos: