segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Renúncia. Coragem. Sintonia.

A renúncia

Quem mantém intenções impõe à realidade algo de seu; talvez pretenda alterá-la a partir de uma imagem preconcebida ou influenciar e convencer outras pessoas de acordo com ela. Procedendo assim, procede como se estivesse numa posição superior face à realidade; como se ela fosse um objeto para a sua subjetividade e não fosse ele, ao invés, o objeto da realidade. Aqui fica evidente o tipo de renúncia exigido de nós para abdicarmos de nossas intenções, inclusive das boas intenções. Além do mais, o próprio bom senso exige essa renúncia, pois a experiência nos mostra que frequentemente sai errado o que fazemos com boa intenção ou até mesmo com a melhor das intenções. A intenção não substitui a compreensão.

A coragem

Quem teme o que a realidade traz à luz coloca uma viseira nos olhos. E quem receia o que os outros vão pensar ou fazer quando diz o que percebeu fecha-se a um novo conhecimento. Aquele que, como terapeuta, teme defrontar-se com a realidade de um cliente - por exemplo, a de que lhe resta pouco tempo de vida - transmite-lhe medo, dando-lhe a ver que o terapeuta não está à altura desta realidade.

A sintonia

Um discípulo perguntou a um mestre: "Diga-me, o que é a liberdade?"
"Que liberdade?", perguntou-lhe o mestre.
"A primeira liberdade é a estupidez. Lembra o cavalo que, relinchando, derruba o cavaleiro, só para sentir depois o seu pulso ainda mais firme.
A segunda liberdade é o remorso. Lembra o timoneiro que, após o naufrágio, permanece nos destroços em vez de subir ao barco salva-vidas.
A terceira liberdade é a compreensão. Ela sucede à estupidez e ao remorso. Assemelha-se ao caule que se balança com o vento e, por ceder onde é fraco, permanece de pé."
"Isso é tudo?", perguntou o discípulo?
O mestre respondeu: "Algumas pessoas acham que são elas que procuram a verdade de suas almas. Contudo, é a grande Alma que pensa e procura através delas. Como a natureza, ela pode permitir-se muitos erros, porque está sempre e sem esforço substituindo os maus jogadores. Mas aquele que a deixa pensar recebe dela, às vezes, certa liberdade de movimento. E, como um rio que carrega o nadador que se deixa levar, ela o leva até a margem, unindo sua força à dele."

[Extraído do livro Ordens do Amor (em alemão: Ordnungen der Liebe), de Bert Hellinger, psicanalista, nascido na Alemanha em 1925; formou-se em Filosofia, Teologia e Pedagogia. Foi missionário católico na África do Sul, durante 16 anos, dirigindo várias escolas de nível superior. Obras anteriores: A Simetria Oculta do Amor e Constelações Familiares. Os três livros aqui citados foram publicados no Brasil pela Editora Cultrix]